Circulação: da zona de passagem à ambiência de interpenetrações de sentidos 179 Os processos de midiatização geram novas formas de contato, bem como possibilidades de intercâmbio que se apoiam em outras formas de retroações. Os processos de intercambia- lidade, até então dinamizados pelos campos sociais e suas práticas, passam a ser engendrados via circuitos que emergem de interações complexas, escapando das fronteiras e operações tec- nossimbólicas tecidas apenas pelo campo midiático. Ou seja, o intercâmbio entre produção e recepção já não temmais a evidên- cia de uma suposta supremacia do ponto de vista do ator-pro- dutor da emissão. Diante de uma nova atividade circulatória, as estratégias interacionais se revestem de outras complexidades. Convém recordar que, de certa forma, a perspectiva funcionalista se atualiza no cenário que envolve a relação entre produção e recepção – especialmente a diferença entre elas, a qual é caracterizada por problemático “desajuste” entre suas ló- gicas e operações. Em função da emergência de plataformas, em lugar de se reconhecer a complexidade da distância e diferença suscitadas pela midiatização, acentua-se a supremacia do dispo- sitivo técnico em si, dotado de autoridade enquanto operador central de um trabalho de produção de sentidos e gerador de atos interacionais. Por desconhecer a diferenciação entre gramáticas e lógicas dos âmbitos da produção e recepção de mensagens, tal for- mulação reducionista nega a existência de uma relação comple- xificada. Nesses termos, tal processo não distinguiria posições e operações enunciativas dos atores em interação, apontando, no lugar de suas diferenças, uma “pseudossimetricidade” na intera- ção. Há, aí, uma recusa à ocorrência dos processos interacionais segundo inevitáveis descontinuidades, conforme pleiteiam as teorias da complexidade. Ao sustentar o ponto de vista segundo o qual o processo interacional se faz por dinâmicas transmissionais, tal pers- pectiva desconhece a complexidade da circulação. Situa, assim, o processo de interação enquanto ato contínuo, sem ocorrência de desajustes ou dissociações entre produtores/receptores de mensagen N s a . turalizando-se o trabalho da circulação como um ato transmissional, sua complexidade é reduzida a uma “zona de passagem”, um elo a assegurar a efetividade do processo de
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