Circulação: da zona de passagem à ambiência de interpenetrações de sentidos 181 Em período posterior (2007-2011), estudamos as mutações da midiatização no que tange aos processos de noticiabi- lidade4, envolvendo as condições de produção e funcionamento dos discursos jornalísticos. Examinamos, inicialmente, efeitos sobre aspectos macroestruturais da atividade jornalística, espe- cialmente marcas que sinalizavam a perda da soberania media- cional da produção jornalística. Isso porque o ato de construção da noticiabilidade e seus protocolos informativos passaram a ser divididos com outras instâncias institucionais, que maneja- vam lógicas e operações digitais emergentes. Visando conter essa “prerrogativa”, as práticas jorna- lísticas deixavam de enfatizar procedimentos sobre o relato da atualidade, passando a valorizar, em termos autorreferentes, processos alusivos à própria fabricação da notícia. Antigos pa- drões de confiança que o jornalismo ofertava via “contratos de leituras” eram abandonados e, em seu lugar, as mídias jornalísticas passavam a destacar seu próprio trabalho enunciativo, de natureza autorreferente, enquanto “realidade da construção” (Fausto Neto, 2006a). Efeitos desse cenário foram novas formas de contato entre mídias, instituições e atores sociais, ao mesmo tempo que as fontes e o leitorado redefiniam seus papéis ao se transformarem em “atores-leitores”. A notícia passa, então, a ser construí- da pelos próprios atores sociais e institucionais, que, através de protocolos, intervêm sobre as condições de apuração e circulação de notícias e começam a orientar e explicitar ângulos do seu trabalho, especialmente no que tange à circulação de informa- ções (Fausto Neto, 2006b; 2007). Com isso, complexificam-se as condições de circulação no ambiente informacional contemporâneo, pois fontes e leito- res se transformam em protagonistas da noticiabilidade. Além do acesso à ambiência midiatizada, como consequência das mu- tações, destaca-se o deslocamento do trabalho jornalístico “da construção da realidade à realidade da construção” (Luhmann, 2011), segundo narrativas de natureza autorreferente. Assim, o discurso jornalístico desenvolve outra modalidade de enuncia4 Projeto de pesquisa CNPq “Mutações nos processos de noticiabilidade: novas estratégias de enunciação do discurso jornalístico”, vigente de 2007 a 2011
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