Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Antônio Fausto Neto 182 ção, a qual valoriza narrativas centradas no que chamamos de “analítica da midiatização” (Fausto Neto, 2008a). Porém, parte dessas mutações e de suas dinâmicas cir- culatórias vão além das interfaces entre produção jornalística e receptores, afetando o próprio “chão de fábrica” jornalístico. Destaca-se, nesse sentido, a inserção da atividade do ombudsman na rotina jornalística, enquanto “elo intermediário”. Isso significa uma complexificação da atividade mediacional, uma vez que mediadores como o ombudsman se constituem num ou- tro tipo de operador entre o universo do leitorado e os sistemas jornalísticos. Ele é responsável por tecer novas formas de vínculos, indo além das funções de um sistema social de resposta por parte do campo midiático (Braga, 2006). A existência do ombudsman já se manifesta em um contexto de complexificação das afetações entre mídias e leitores. Ele seria uma espécie de resposta dada ao emergente trabalho circulatório de redes digitais, que transforma o cenário de produção da noticiabilidade. Mas sua presença não resiste às injunções de lógicas, inovações e presença dos atores digitais. Seu desaparecimento enquanto “fala intermediária” ocorre em plena “praça pública” da midiatização. Ele é anunciado na esfera textual do próprio jornal, de cujo espaço o ombudsman se despede, anunciando as razões de sua saída (Fausto Neto, 2008b). Tal acontecimento é emblemático, pois aponta para complexas dinâmicas de proces- sos circulatórios, transformando o status mediacional da produção jornalística. Além deste, o sistema de produção da noticia- bilidade vai ser palco de outros fenômenos que dinamizariam e aprofundariam os emergentes efeitos da circulação sobre a produção da noticiabilidade. As possibilidades de transformação do ombudsman em um novo dispositivo interacional entre universo midiático e sociedade parecem se constituir no embrião de uma nova zona comunicacional. Esta operaria na construção de novos vínculos entre mídias e seus leitores, no sentido de “anular” distâncias entre circuitos de contato entre eles. De alguma forma, emergem dinâmicas que chamam a atenção para a natureza de um traba- lho tecido a partir da circulação discursiva, tendo como contexto a “sociedade em midiatização”. Ele seria resultado da comple-

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