Antônio Fausto Neto 184 jornalismo passa a ser desafiado por outros protocolos enunciativos e suas operações. Dessa forma, os atores do sistema jornalístico deixam de operar sua atividade segundo parâmetros e lógicas do sistema onde estão instalados, e passam a construir interações em novos nichos, tendo como referência as marcas e operações de “zonas de pregnâncias” e das interfaces de outros sistemas. Ou seja, abandonam o lugar dos meios para migrar e caminhar pe- las plataformas, onde se defrontam com outros sistemas e ato- res com os quais negociam novas possibilidades de produção da atualidade. Frente às dinâmicas, técnicas e práticas discursivas geradoras de novas zonas de contato na ambiência da midiati- zação, a argumentação em torno da qual repousou por longo tempo a autonomia jornalística para produzir a noticiabilidade – “toda notícia que couber, a gente publica” (Darnton, 1990, p. 41) – parece debilitada. A produção e disseminação do acontecimento, que, até então, estavam vinculadas ao contexto específico das mídias jor- nalísticas, já não derivam apenas dessa instância. Os processos se deslocam para complexas e heterogêneas plataformas de pro- dução, através das quais seus operadores se instalam progressi- vamente na paisagem da circulação (Fausto Neto, 2007). Desta feita, através de estratégias autorreferenciais, migram da condição de “guardião de contato”, em que jornalistas se situavam em sua atividade mediacional, para um novo tipo de operador discursivo. E nestas condições novas alterações tratam de mostrar outras possibilidades de inteligibilidade acerca do acontecimento. A problemática da circulação merece ser explorada tanto do ponto de vista teórico como metodológico, levando-se em conta a transição de uma perspectiva “mecânica” para outra modalidade de funcionamento. Para tanto, faz-se necessário va- lorizar as distinções do funcionamento da circulação no contex- to da “sociedade dos meios” e da “sociedade em midiatização”, dando-se atenção a suas distintas manifestações – mais especi- ficamente, o exame da circulação além de suas próprias bordas. Um balanço do processo investigativo realizado ao longo de fases anteriores nos permitiu compreender cenários de estudos que antecedem a midiatização. Em seus processos ob-
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz