Antônio Fausto Neto 186 algo que se passava na paisagem dos mass media, especialmente jornalísticos, em seu contato com as dinâmicas da midiatização5. Cuidávamos de apontar mutações que se manifestavam nas ambiências, identidades e discursividades dos jornalis- tas, assim como em sua relação com os leitores (Fausto Neto, 2011b). Fatores vários sinalizaram pistas sobre algo que nomeamos, à época, como deambulação, esmaecimento ou enfraqueci- mento das estruturas de mediação6. Percebemos que inúmeras transformações se passavam nos processos produtivos, à medida que os acontecimentos escapavam das fronteiras das mídias noticiosas e passavam a ter sua construção diretamente enunciada por campos sociais distintos (Fausto Neto; Weschenfelder, 2012). Em suma, as narrati- vidades passam a “fugir” das normas dos manuais de redação e de outras orientações tecidas no ambiente da produção jornalística para serem permeadas por insumos da plataformização emergente (Fausto Neto, 2012a). Complexos acontecimentos, como as manifestações de rua, fogem das mãos dos jornalistas e de seus processos produ- tivos, passando a ser dinamizados pelas pautas, metodologias e lógicas de redes sociais como o Facebook (Fausto Neto, 2014a). Leitores – agora nomeados como “internautas” – deslocam-se de antigos espaços de jornais – onde publicavam cartas para redações – para as redes sociais, nas quais travam pugnas com editores e jornalistas, apontando suas discordâncias sobre te- mas tratados em edições impressas, televisivas e mesmo digitais (Fausto Neto, 2012b). Mudanças nesses processos de interação geram acon- tecimentos em complexidade. De receptores abstratos (até en- tão, apenas quantificados pelas pesquisas de opinião), os leitores se transformam em fiéis – enquanto coletivos distintos. In- tervêm, assim, na construção e no funcionamento de procissões religiosas como o Círio de Nazaré, sob os olhares de agentes ins5 Projeto de pesquisa CNPq “Afetações da midiatização sobre o ofício do jornalis- mo: ambiência, identidades, discursividades e processos interacionais”, vigente de 2010 a 2015. 6 Essas noções também foram debatidas por este pesquisador durante o III Semi- nário de Epistemologia e Pesquisa em Comunicação, realizado em Goiânia em 2011.
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