Circulação: da zona de passagem à ambiência de interpenetrações de sentidos 187 titucionais e dos próprios dispositivos televisivos que cuidam de sua transmissão (Fausto Neto, 2013a). Os tapumes dos escombros da Boate Kiss, objeto de um complexo incêndio, transformam-se em memorial onde se faz o luto pela perda de entes queridos (Fausto Neto; Fabrício; Wes- chenfelder, 2014). Coletivos organizam protestos nas varandas de edifícios e manifestações em redes sociais durante a emissão de telejornais, para com eles concorrer através de “panelaços” (Fausto Neto, 2016a). A midiatização do acontecimento já não é mais tecida por regras específicas da divisão social do trabalho sobre a qual se apoiava o trabalho da noticiabilidade dos mass media. Tam- bém passa a ser operada por agentes de coletivos, que dominam operações discursivas e ingressam, em tempo real, no set televi- sivo de programas de divertimento, veiculando manifesto de de- núncia às condições de funcionamento dos presídios brasileiros (Fausto Neto, 2006b). O jornalista/colunista, até então especialista midiático, amplia seu tradicional posto de ofício: desloca-se do colunismo para as redes sociais, de onde escreve, na forma de diário e de próprio punho, sobre o câncer que o acomete (Fausto Neto, 2011a). O fotógrafo, por sua vez, sai do laboratório para acompanhar o presidente Lula, fazendo registros em redes sociais que se transformam em livro temático sobre o tratamento do político contra o câncer (Fausto Neto, 2014b). Nessas condições, outra construção de vínculos entre mídias e leitores é materializada através da criação de ambien- tes7. Neles, a produção de sentidos se faz através de dinâmicas circulatórias emergentes e novos regimes de discursividades, indo além das rotinas dos sistemas de produtos midiáticos. Ocorrências ganham status de acontecimentos, como a demissão do apresentador de telejornal que emite, na antessala da emissora, comentário contendo teor racista contra o operador da edição – o qual escapa às fronteiras do estúdio e cai no território da circulação (Fausto Neto; Thisen, 2020). 7 Projeto de pesquisa CNPq “Circulação: gênese, funcionamento e complexifica- ção das ‘zonas de contato’ na sociedade em midiatização”, vigente de 2015 a 2020.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz