Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Antônio Fausto Neto 190 A circulação, cuja insondabilidade parecia até então ser uma questão complexa, apresenta-se hoje de modo outro, na medida em que marcas de seu funcionamento são manejadas em registros como os descritos neste artigo. Nesse contexto de midiatização complexificada, a circulação suscita o aparecimen- to de novos objetos, bem como de interações a partir de aspec- tos discursivos e não discursivos. Transformações nos processos de produção discursiva já não são tecidas nos limites dos espaços dos mass media, visto que os processos de enunciação, até então restritos ao âmbito das mídias, escapam às suas fronteiras e são engendrados e/ou postos em circulação em cenários de produção da noticiabilida- de distintos. Tais mutações apontam para a necessidade de se avançar em processos investigativos sobre a circulação, uma vez que as noções de defasagem, diferença e desajuste são materiali- zadas segundo operações cada vez mais complexas – sendo que muitas delas transcendem o âmbito discursivo midiático pro- priamente dito. Para tanto, devem-se levar em conta os meios operadores das discursividades em circulação. A atividade da circulação se faz, hoje, através de moda- lidades complexas e processualidades distintas, uma vez que as fronteiras entre sistemas (ou campos), nas quais determinadas lógicas operam, são tensionadas entre si, dando lugar a novas articulações de acoplamentos e interpenetrações em termos de práticas discursivas. Essa nova intercambialidade discursiva engendra uma atividade enunciativa que se se faz em meio a ope- rações distintas de produção de sentidos, que passam por níveis de representação, cognição e operação junto à matéria significante (Culioli, 1990). No contexto da midiatização, processos interacionais se manifestam segundo lógicas complexas e distintas dos sistemas (sociais) interpenetrantes. Tal complexidade se constitui, inicialmente, em cada um deles, segundo atividades de auto- poiese que se deslocam para acoplamentos que se materializariam na esfera da interpenetração discursiva de diferentes siste- mas (Fausto Neto, 2016b). Há, aí, uma mudança no paradigma comunicacional, na medida em que emergem novos padrões de interações entre os sistemas midiáticos e os sistemas sociais

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