Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Circulação: da zona de passagem à ambiência de interpenetrações de sentidos 191 mais abrangentes, bem como as relações destes com os sistemas socioindividuais. No lugar de convergências suscitadas por interações que levavam em conta apenas as injunções de determinado sistema sobre outro, observa-se que o intercâmbio entre sistemas se faz em torno de entrelaçamentos tecidos na dinâmica da cir- culação. Estes são geradores de complexidades, pois expressam a natureza de cenários e práticas de interpenetração, conforme indicam observações sobre as práticas de produções de sentidos no contexto da midiatização em curso. No “solo” da midiatização (Fausto Neto, 2015), edifi- cam-se e operam novas dinâmicas circulatórias, as quais envol- vem entrelaçamentos discursivos entre distintos sistemas – midiáticos, jurídicos, sanitários, políticos, religiosos, científicos, etc. É possível perceber a presença das lógicas e operações midiáti- cas em vários acontecimentos do Brasil nos últimos anos, como a cobertura midiática sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff e os interrogatórios do presidente Lula no contexto das investigações da Lava Jato (Fausto Neto, 2016c; 2017a). Discursos de várias naturezas são transformados pelas dinâmicas da circulação. Evidências mais específicas podem ser encontradas ao longo de 2020, cenário da disseminação do coronavírus no Brasil. No que tange ao tema, examinamos, em um conjunto de textos (Fausto Neto, 2020a; 2020b), os processos de circulação de sentidos do vírus no âmbito de discursos enunciados pelos sistemas de saúde, político, judiciário e midiático. Analisamos especialmente os níveis de articulações, acoplamentos e entrelaçamentos discursivos que suscitavam disputas de sentido. Para tanto, partimos de três subconjuntos de textos contemplando aspectos da ocorrência da Covid-19 no Brasil: o discurso negativo do presidente da República sobre a doença; a cobertura midiático-jornalística enquanto uma espé- cie de “analítica da Covid”; e o discurso social de caráter edu- cativo-instrucional sobre o vírus, dirigido para sistemas sociais diversos (Fausto Neto, 2020a; 2020b). O segundo e o terceiro conjuntos são caracterizados por disputas de sentidos envolvendo relatos informativos e explicativos desenvolvidos por sistemas políticos e sanitários. Já o primeiro apresenta uma “enunciação de combate”, através da

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