Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Antônio Fausto Neto 192 qual o discurso político (presidencial) dirige-se, ao longo de meses, aos diferentes sistemas sociais (político, de saúde e popu- lação em geral) para desqualificar as estratégias de combate ao vírus. Nesse contexto, o presidente desqualifica a nature- za da enunciação midiática, através de atos que afetam não só a instituição jornalística, mas seus próprios atores – como, por exemplo, ao mandar um jornalista “calar a boca” no contexto de uma entrevista. Ao duvidar da eficácia da vacina e promover su- cessivas falas públicas voltadas às instituições, o discurso presidencial nega a ciência, ao mesmo tempo que alega que o vírus se trata apenas de uma “gripezinha”. No segundo conjunto de textos, examinamos a cobertura das mídias sobre a Covid-19, circunstância em que assumem estratégias comunicacionais distintas da tradicional cobertura jornalística. Transformam suas rotinas em programas de esclarecimento, contando com a mediação de profissionais e especia- listas de vários campos. Como consequência, são geradas com- plexas interações engajadas no combate ao vírus, que envolvem ações educativas, problematização dos discursos de negação e de ameaça aos saberes científicos, etc. Os tradicionais rituais de mediação são ameaçados por serem interrompidos, sustando a voz do jornalista enquanto seu operador. Ao mesmo tempo, o sistema de mídias elege outras modalidades de esclarecimento público, misturando-se às atividades autorreferentes sobre o papel do jornalismo na condução de acontecimentos complexos. As rotinas são transformadas em emissões temáticas, envolvendo especialistas de várias áreas de conhecimento, suscitando esclarecimentos, debates, informes, etc. São eventos “pilotados” pelo discurso da atualidade, dirigidos à população em uma espécie de correio de contatos diuturnos. Por fim, o terceiro grupo de textos inclui campanhas de caráter instrucional sobre o vírus, as quais são enunciadas atra- vés de suportes de comunicação e educação popular – como os folhetos de cordel. Elas circulam com a colaboração de agentes educativos de várias áreas, dando instruções à população sobre protocolos preventivos de combate ao vírus, lançando mão de narrativas, enunciando saberes compartilhados e detalhando estratégias de defesa contra o vírus.

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