Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Viviane Borelli 212 palavras evidencia que os discursos oficiais do presidente priorizavam fatores econômicos. Para uma análise mais aprofundada, foi preciso retornar aos textos emdistintas temporalidades, pois o posicionamento do presidente mudava ao longo de um ano, como em relação à vaci- na: no início ridicularizara sua eficácia e inventara reações adver- sas. Por outro lado, uma constante nos discursos foi a defesa do uso de cloroquina e de outros medicamentos sem comprovação médica ou científica para o tratamento da Covid-19. Com o tratamento, a mineração de dados e a ajuda do software, foi possível levantar algumas pistas importantes para a constatação de que ali eram publicados posicionamentos que buscavam dar conta de uma pressão social e institucional para a gestão da pandemia. No Underground, Bolsonaro falava com seus apoiado- res e fazia circular com muito mais ênfase sua postura negacionista, seja contra a ciência, a democracia, o jornalismo ou as mídias de referência no Brasil. Assim, essa investigação mostra que analisar os dados públicos, disponíveis para consulta e checagem, é insuficiente para a compreensão de um contexto mais amplo. Em função das práticas comunicacionais do presidente, centrar-se apenas nos discursos oficiais acarretaria um olhar mais restrito; dessa forma, foi preciso ampliar a observação para que questões mais macro também pudessem ser contempladas. O que era publicado como discurso oficial na página do Planalto era diferente do que o presidente dizia constantemen- te em lives para apoiadores e seguidores em seu perfil no Twit- ter e no canal do YouTube. O que fora publicado como “oficial” também era dissonante do que circulava nos grupos públicos do Telegram e aqueles ligados ao então presidente Jair Bolso- naro11. Órgãos oficiais, como o STF (Superior Tribunal Federal) 11 Em 2022, estimava-se que os canais com mais integrantes no Brasil fossem li- gados ao então presidente Jair Bolsonaro, filhos e apoiadores. O Telegram anun- ciou que alguns grupos pró-Bolsonaro foram suspensos a partir de março de 2022 após acordo com o STF. Em outubro de 2022, véspera do segundo tur- no das eleições, o TSE obrigou o Telegram a derrubar grupos de apoiadores. https://www.conjur.com.br/2022-out-28/tse-manda-telegram-excluir-grupos- bolsonaristas-pregavam-violencia2. Monitoramento feito pelo professor Fabricio Benvenuto de Souza da UFMG acompanhava tais perfis. Disponível em: http://www.monitor-de-whatsapp.dcc.ufmg.br/

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