A problematização teórico-metodológica nas pesquisas de circulação e plataformas 215 militude. Entretanto, se ficarmos presos à linguística do corpus, poderemos estar voltando aos anos 60, no ápice do paradigma estruturalista, quando da primeira semiologia, que estava muito aprisionada à frase (Verón, 1996; 2004; 2013). Aqui, foram mostrados exemplos da importância e da necessidade de voltarmos aos contextos, pois estamos imersos em processos complexos, acionados pela midiatização das socie- dades e da circulação de sentidos. Dessa maneira, “como se diz” tem importância ímpar e deve ser problematizado junto “ao que o que diz”. Assim, acredito que a semiótica seja uma fonte a nos fornecer subsídios para interpretarmos de forma crítica distin- tas matérias significantes. Em A memória vegetal, Umberto Eco analisa o livro e o seu gosto pela leitura, dizendo que havia uma memória vegetal, que provinha da certificação construída pelos livros. Ele problematiza a questão da memória, que teria uma dupla função: “lembrar os dados de nossa experiência precedente; mas a outra é também de filtrá-los, de descartar alguns e conservar outros” (Eco, 2010, p. 10-11). Ao falar da memória proporcionada pelos bancos de dados e desenvolvimento tecnológico, diz que volta- mos a um tipo de memória que tinha um suporte mineral, como ideogramas registrados em cavernas. A memória social cons- truída sobre a matéria-prima do silício permite acesso e estoque imensos. Mas podemos nos sentir “obsedados por milhões de detalhes, podemos perder todo critério de escolha” (Eco, 2010, p. 15). Assim, ao estarmos imersos em dados, precisamos anali- sá-los com cuidado e com parâmetros interpretativos. A memória da pesquisa acadêmica que estamos cons- truindo não pode ser guiada pela aparente facilidade de termos dados prontos, com corpus pré-fabricados e predefinidos. Precisamos problematizar a inexistência de uma “neutralidade dos dados”, a configuração das plataformas, que possuem caracte- rísticas muito singulares e que determinam o que pode (e deve) ser extraído. A relativização deve ser uma prática corriqueira e uma guia desde a formulação da questão de pesquisa (o que me orienta), o acesso aos dados (o que é permitido acessar) até os resultados parciais. Por fim, não podemos abrir mão da necessidade de olhar para os contextos em que tais dados estão sendo organi-
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