À imagem e semelhança: máquina, homem e imaginários em circulação 223 confirmação da identidade via leitura facial. O sujeito manipula com destreza códigos e aplicativos diversos. Convive com a dú- vida entre a proteção e a adesão, a integração e a exclusão. Sem tempo, apenas flui. A cena 3 é a do típico sujeito como qualquer um de nós, num mundo que poderia inserir-se em uma narrativa distópica (a que foi amplamente estudada por Jean Pierre Bocca [2021] em dissertação de mestrado orientada pelo Prof. José Luiz Bra- ga, por exemplo) para problematizar o lugar do maquínico na sociedade. Em comum nas três cenas aqui reportadas é o fato de que se referem a um imaginário da relação homem-máquina, tão antiga talvez quanto o próprio homem. As máquinas como extensões (McLuhan, 2003), simbióticas (Rosnay, 1997), da visão (Virilio, 2002), as máquinas de guerra (Deleuze e Guattari, 1996). Apesar das diferenças temporais e de abordagem, a dis- cussão da relação homem-máquina vem permeando o desenvolvimento da sociedade e, consequentemente, está atrelada àquilo que Verón, em 2014, chamou de uma perspectiva semioantropo- lógica a respeito da midiatização. Para ele, A midiatização certamente não é um processo universal que caracteriza todas as sociedades hu- manas, do passado e do presente, mas é, mesmo assim, um resultado operacional de uma dimensão nuclear de nossa espécie biológica, mais precisa- mente, sua capacidade de semiose. Essa capacidade foi progressivamente ativada, por diversas razões, em uma variedade de contextos históricos e tem, portanto, tomado diferentes formas. Entretanto, algumas das consequências estiveram presentes em nossa história evolucionária desde o início e afetaram profundamente a organização das sociedades ocidentais muito antes da moder- nidade (Verón, 2014, p. 14). Verón considera como consequências do fenômeno midiático da exteriorização dos processos mentais, portanto da midiatização, a aceleração do tempo histórico, bem como as rupturas entre espaço e tempo produzidas pelos dispositivos técni- cos. Nas cenas anteriormente reportadas, o espaço e o tempo se
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