Ana Paula da Rosa 224 entrecruzam, articulam passado, presente e futuro numa espécie de amálgama. A capacidade de semiose, infinita, é constan- temente acionada e os fenômenos midiáticos passam a ser uma precondição dos sistemas sociais complexos. A ideia de semiose infinita liga-se, portanto, à noção da produção de sentido. Nas cenas mencionadas, há algo que nos permite ver de olhos fechados somente a partir da narrativa. Do mesmo modo, as imagens, quase que como frames, permitem re- cuperar a narrativa a partir de nossas memórias de um já visto. Isso implica dizer que estamos diante de um imaginário, em ato de produção e como produto, um imaginário individual e coleti- vo, ou seja, força criativa que coalesce com a força do imaginário midiático. Tal imaginário, o midiático, vive dos fluxos, mantém-se pela repetição, pela reiteração, pela conformação de um modelo que dura no tempo (no cinema, na animação, na telenovela, nos quadrinhos) e que é valorizado nas interações. A cena da luta do bem contra o mal ou a de um futuro feliz mediado por máqui- nas se interligam, mas parecem se afastar do retrato do homem comum de nosso tempo. Embora todas estas cenas circulem, há uma certa dificuldade em pensar sobre nosso presente já per- meado pela máquina e de conceber que, para além de circuitos imagéticos, há um jogo de imaginações: o homem que imagina a máquina (cada vez melhor e mais veloz) e a máquina que imagi- na o homem (cada vez mais funcionário). Neste sentido, o pesquisador sueco Hans Ruin (2022) se refere à questão do universo da fantasia atrelado às discus- sões da tecnologia em nosso tempo, em especial no que tange à inteligência artificial. Para o professor de Filosofia na Södertörn University, a inteligência artificial está na boca de todos e, seja por seus “evangelistas ou profetas do juízo final”, povoa a literatura e o cinema, algumas destas narrativas fantasiosas têm sido lançadas e relançadas de tempos em tempos. Acima de tudo, a aplicação comercial e o interesse estão novamente no auge. A explicação para essa mudança de cena tem uma dimensão filosófica interessante. Enquanto a pesquisa da IA pensou que estava recriando a inteligência humana, ela ficou
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