Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Ana Paula da Rosa 228 Ou seja, o desenvolvimento das redes sociais digitais e a possibilidade de acesso aos diferentes espaços discursivos resultaram em uma profusão de enunciadores midiáticos, per- mitindo considerar a hipermidiatização não apenas pelo prisma dos múltiplos meios e do hipertexto, como Verón criticava em 1997, mas também de uma cultura transformada na e pela mi- diatização em um estágio mais profundo. Neste mesmo sentido, Andreas Hepp vem elaborando a ideia de midiatização profunda, para dar conta de um processo cada vez mais complexo, em que a tecnologia não é apenas parte integrante, mas motor de modos de vida. A perspectiva de mi- diatização profunda considera não somente a dimensão da pro- dução e do reconhecimento, mas também especialmente da infraestrutura. Para Hepp (2020, p. 3), a deep mediatization não se refere somente aos produtores de tecnologia, como as grandes corporações, e tampouco somente às apropriações dos usuários. “It is also imagined by various actors and driven forward by visions such as those […] which often adopt positive future scenarios. We are dealing here with a highly dynamic and multilayered process.” Embora o autor não discuta o imaginário, dá a ele também um espaço, visto que este está também em constan- te elaboração e é parte essencial daquilo que investigamos, não somente porque há uma “saturação de mídia” na nossa vida co- tidiana, mas porque a presença dessa lógica também afeta nosso modo de pensar, criar e imaginar. A ideia de deep mediatization emerge, para o autor, da necessidade investigar a intensificação da midiatização, em especial pelos processos de digitalização, considerando não somente os meios em si ou o atravessamento social, mas também aquilo que é gerado nessas relações, portanto os dados que se- rão, posteriormente, tratados de forma automatizada. É neste aspecto que Hepp (2020) traz a noção de profundidade. “An ad- vanced stage of the process in which all elements of our social world are intricately related to digital media and their underlying infrastructures” (Couldry e Hepp, 2017, p. 7 apud Hepp, 2020, p. 5). E vai mais à frente ao considerar que “The use of deep mediatization as a term is, therefore, deliberate because it is the stage of mediatization in which the analysis of algorithms, data

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