Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

À imagem e semelhança: máquina, homem e imaginários em circulação 231 ação serão praticamente invisíveis. Em tal sociedade imaginária desapareceria a política, no signifi- cado costumeiro do termo. No sentido tradicional ela é um método para tomar decisões e pressupõe praça pública, local onde estas decisões são toma- das seja por diálogo, seja por imperativos. Essa sociedade imaginária exclui toda praça pública, porque seus programas são elaborados em lugares privados e dirigem-se diretamente aos lugares pri- vados dos consumidores. O poder de decisão não será explicável (Flusser, 1980, p. 1). Essa sociedade imaginária de Flusser nos anos 80 se concretiza na sociedade atual, 42 anos depois, principalmente quando pensamos na invisibilidade dos processos revestidos por um discurso de liberdade plena. Nas redes sociais posso ser e mostrar o que eu quiser, posso assumir o controle de minha própria elaboração. Posso estar em contato com o outro do ou- tro lado do mundo, assim como estamos aqui e agora, posso interagir com a máquina que parece sentir e adivinha o que sinto. Posso, mas em que medida o poder de decisão é explicável ou está em minhas mãos? Isso significa que a pseudotransparência da máquina, todas estas com que nos relacionamos cotidiana- mente para viver e espaço onde, definitivamente, vivemos, torna opaca sua presença e permite que os sonhos e visões distópicas permaneçam vinculados a um futuro distante, a um quando. Sem nenhum tom apocalíptico, a questão é que o pro- cesso de midiatização atual, gradual e contínuo, não em vias de, mas em curso cada vez mais acelerado, insere-nos num presente em que ser em midiatização é ser amalgamado com a dimensão maquínica da vida. Tarefas simples como um pagamento bancário, um embarque no aeroporto, a identificação do próximo trem, passam a ser tão partes de nosso cotidiano que sequer per- cebemos os atravessamentos sobre como lidamos com o tempo, com o outro, com os sentidos em circulação. A caixa-preta nos programa e ficamos retidos nesse jogo de programar e funcio- nar. Exemplo ainda mais enfático dessa relação que envolve a infraestrutura discutida por Hepp, os diferentes enunciadores midiáticos de Carlón como uma exacerbação da midiatização, são as assistentes virtuais, como aquela que na cena 3 libertava

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz