Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Ana Paula da Rosa 232 o sujeito de acender as luzes da casa e ligar o forno. São muitas, Alexa, Siri, Cortana, todas mulheres, invisíveis em sua mate- rialidade física, mas eficazes em sua transparência. Assistentes virtuais que operam sobre nós a partir daquilo que solicitamos, uma vez que estamos no controle. Até o ponto em que Alexa, Siri e Cortana sabemmais de nós do que nós mesmos. Estranhamen- te, num mundo tão complexo, nossas assistentes, às quais damos o poder de nos servir, continuam sendo apresentadas como mulheres. A transparência não refuta o traço histórico do ima- ginário social. Eis aí um ponto importante: como nessa relação comunicativa homem-máquina os imaginários são mobilizados? 5. Quando a máquina brinca de me imaginar: o caso da retrospectiva do Spotify A transparência da máquina, como dito anteriormente, não refuta o traço do imaginário social. Mas, ao mesmo tempo, a máquina também brinca de imaginar o sujeito. Considerando nossas interações, interessa pensar aqui como imaginários outros vão sendo tecidos entre os actantes do processo (Latour, 1994). Se imaginamos a máquina, ela também nos imagina. To- memos o Spotify como um elemento importante de nossa cultura, muito mais do que um banco de dados de “músicas para todos”, como sinaliza a plataforma. O serviço de streaming que comporta músicas, podcasts e uma infinidade de possibilidades transformadoras do hábito de ouvir música vai, cada vez mais, adquirindo novas formas de contato (afinal, não é só ouvir, envolve criar, partilhar, descobrir). Todos os anos, o Spotify oferece aos usuários, em es- pecial aqueles assinantes, uma retrospectiva anual de sua vida a partir das músicas ouvidas, acessadas, das pesquisas realizadas, dos dados compartilhados. Essa retrospectiva maquínica é, de um lado, fruto do programa, de outro, uma forma de imaginar o sujeito que o opera. Provavelmente o leitor deste texto deve ter recebido sua retrospectiva. O ponto não está em dizer quantas horas ouvimos música, quantos artistas diferentes, nem mesmo qual nossa música preferida em 2022, embora isso seja interes- sante porque nem mesmo nós temos esse mapa. O ponto está

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