À imagem e semelhança: máquina, homem e imaginários em circulação 235 modo que o imaginário midiático desenvolve suas elaborações da máquina, conforme iniciamos esta apresentação. Isto significa di- zer que neste momento da midiatização, entendendo-a como um processo de longo termo (Bolin, 2017), a existência social se dá na relação com sua ambiência. Neste aspecto, Pedro Gilberto Go- mes (2022) considera que o desenvolvimento das mídias digitais dá lugar a um novo modo de ser, uma vez que os inter-relacionamentos mudaram, o que exige do analista outras formas e esfor- ços de compreensão. Emerge daí a ideia de desvendar os códigos escondidos, os quais “estão em articulação com a ambiência (seus processos e materialidades) da midiatização. Seria uma espécie de textos, alojados em com-textos da semiosis” (Gomes, 2022, p. 171). Dito de outra forma, a partir de nossa ótica, para compreender os inter-relacionamentos é preciso olhar para a complexidade da ambiência da midiatização, inclusive para o invisível ou trans- parente porque estes carregam os imaginários. Gomes (2022) discute a necessidade de se pensar na epimemética dos processos midiáticos, “cuja função seria estudar a transmissão dos memes na sociedade”, logo de valores culturais (crenças e práticas, por exemplo) suscetíveis de imitação. 6. Nunca foi só acesso: inclusões, exclusões e estigmas A questão da epimemética e do que se imita, reproduz, valoriza nas interações (Rosa, 2020) é essencial para pensar os imaginários da máquina. A máquina não refuta o imaginá- rio social; o imaginário social abastece o imaginário midiático e, consequentemente, o imaginário da máquina. Tais imaginá- rios afetam o repertório iconográfico e a força imaginativa do homem. Trata-se de relações, idas e vindas. Nisso, as imagens- -totens (Rosa, 2012; 2014) marcadas por relações profundas e que cristalizam determinados imaginários midiáticos ganham outro espaço de existência. Não se trata da capa da revista Time, da representação distorcida na Folha de S. Paulo ou no Aftonbladet3, mas se trata de imaginários em circulação. Quando falamos 3 Tradicional jornal sueco.
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