Ana Paula da Rosa 240 veis”. E isso envolve ser atingido pelo dito e pelo não dito, pelos sentidos em fluxo, pelas elaborações de mim e do outro, pela mi- diatização em processo. No entanto, Kamper (2001) enfatiza que “Deus sonha os homens; o homem sonha as máquinas; as máquinas sonham Deus. Todos os três sonhos são fundamentais; todos seguem juntos. Eles esgotam a imaginação e deixam ao mundo uma órbita de detritos imaginários.” Nesta perspectiva, Kamper enfati- za o lugar do imaginário midiático, da repetição, reprodução e do conjunto de imagens já vistas que volta emeia retornamou que ficam acessíveis como um grande arquivo de memórias. Nesse jogo de sonhos, Kamper (2001) joga: Deus deseja o homem, não deseja a máquina. O ho- mem deseja a máquina, não Deus. A máquina quer Deus, não deseja o homem. Assim é a fórmula tríplice da renúncia. Se se deslocar levemente o acen- to, então resulta uma rejeição involuntária: Deus sonha o homem, que sonha a máquina. O homem sonha a máquina, que sonha Deus. A máquina so- nha Deus, que sonha o homem. Em tal encadea- mento estão os pontos fracos. Transpondo a perspectiva filosófica para o visto até aqui, podemos pensar sobre a ideia de imagem e semelhança. Feito à imagem e semelhança de quê? Do homem, da sociedade, da máquina, de Deus? O devir, em nossa ótica, não está na ruptura desse círculo de sonhos, muito menos na eliminação de qualquer forma de imaginário, mas na compreensão de que a midiatização não é só meio, aparato, tecnologia, infraestrutura. Também não é só sentido, apropriação, disputa. É o entre. Consi- derando uma ambiência onde estamos todos imersos, a midiatização é o convite a um sonho outro, em que a tríade homem-má- quina-Deus seja não um jogo de força, mas de cooperação. Referências BOCCA, Jean Pierre. Distopias audiovisuais: experiências men- tais em circulação. Dissertação de Mestrado. São Leopol-
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