Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Jairo Ferreira 250 Por este caminho, o conceito de dispositivos se desdobra em outras reflexões que são acionadas em suas pesquisas so- bre circulação (dispositivo de contato; dispositivos de enuncia- ção, dispositivo semiotécnico, etc.), pelo lugar que ocupa como mediador entre gramáticas de produção e de reconhecimento, no que incluímos as relações com a escala, tempo e espaço do meio em investigação. Não se trata do meio em si. Todo e qualquer meio – rádio, televisão, etc. – só é passível de ser analisado no âmbito do midiático se está mediando relações com o espaço público. As analogias entre as duas investigações nos permitem inferir sobre as relações entre objeto de pesquisa e mutações ontológicas quando se diferenciam meios e processos em análise. Uma exposição tem um tempo e espaço de ocorrência em que as materialidades disponíveis (espaço exposição, fotos, textos, etc.) para acesso e recepção estão delimitadas a um território físico presencial, embora os signos disponíveis na exposição se refiram a territórios diferidos no tempo e espaço (imagens e tex- tos sobre formas e locais de férias em diversos tempos e espaços na França). Ou seja, o meio tem ocorrência específica em um ter- ritório físico (país, cidade, bairro, etc.) e o acesso só é possível se o usuário se dispuser a deslocar-se até lá. A investigação, na perspectiva da circulação, está delimitada por este tempo e es- paço para acessar o tempo e espaço diferido materializado na exposição O . tempo e espaço de um programa televisivo é outro. Sua escala é definida pelo alcance do sinal de acesso do progra- ma televisivo, central para a configuração de sua audiência. O acesso, portanto, já remete a outro território físico de acesso, mais amplo do que a presencialidade. No caso do programa, se oferece uma espacialidade diferida para acesso a tempos e es- paços diferidos dos eventos científicos tematizados conforme agenda de programação. A escala da pesquisa, portanto, se altera, inclusivemeto- dologicamente. Esta variação de escala – tempo e espaço – é central nas mutações ontológicas da midiatização, que demandam novos aportes epistemológicos e metodológicos, mesmo quando se conserva a circulação como objeto de problematização.

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