Midiatização, circulação e semiose social: referências para análise crítica de plataformas e algoritmos 251 Mas o problema da circulação sofre mutações não apenas em decorrência de mutações de escala (tempo e espaço do fenômeno em análise). Inferimos também que Verón transita en- tre aproximações epistemológicas e metodológicas mais concretas (usando aqui o termo “concreto” para se referir ao fenôme- no em suas materialidades observadas) para abordagens mais formais e abstratas (em que ficam mais evidentes as relações lógicas de análise da circulação), com validade retroativa a fe- nômenos anteriores e que podem ser acolhidas como sugeridas para fenômenos posteriores. Nos estudos citados acima, uma das transições é a in- terface entre a semiologia de Barthes, na pesquisa sobre a televi- são, e a semiótica de Peirce (Ethnographie). Peirce será mantido por Verón em todo o seu percurso, sendo central na análise de materialidades discursivas, em interfaces com outros autores (como Culioli, que o referencia em seus modelos de produção, reconhecimento e defasagem8, conforme Cingolani, 2019; Fre- ge, por sua abordagem triádica em diálogo com Peirce; Verón, 1987). No desenvolvimento de suas pesquisas, Verón deixa de acionar a etnografia, pois, posteriormente, os estudos se con- centram em análise semiodiscursiva de materiais significantes (capas de revista, jornais, notícias em reportagens em temas e agendas midiáticas), mas a construção social se mantém em suas análises: os meios não representam ou traduzem uma rea- lidade; os meios constroem um acontecimento a partir de um conjunto de operações passíveis de investigação. 1.2. Midiatização e circulação: entre defasagens, coletivos e regulações Verón se insere no debate sobre midiatização no contexto de um debate sobre a semântica em curso, conforme fica bem evidenciado no texto Esquema para análise da midiatização (1997). Ou seja, se insere no debate buscando, com formulações próprias, construir um conceito sobre a semântica que já estava inserida em discursos sociais e reflexões sobre mídia. Portanto, 8 “Las nociones de producción, reconocimiento y desajuste o desfase estuvieron inspiradas por la Teoría de las Operaciones Enunciativas de A. Culioli, lingüista a quien Verón conoció por intermedio de Sophie Fisher, y que luego fuera jurado de su Tesis de Verón” (Cingolani, 2019, p. 9).
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