Jairo Ferreira 254 Se considerarmos que os atores se relacionam com diversos meios e instituições, o fluxo sugerido fica em níveis impon- deráveis de complexidade, e isso é especialmente importante na conjuntura atual da midiatização (coletivos construídos em redes sociodigitais), em que se observa o trânsito dos coletivos de au- diência, leitores, públicos, etc. para novos coletivos, transforma- dos pela inserção de atores (receptores e usuários) nos processos de produção midiática, e, ao mesmo tempo, liberação do indiví- duo perante determinadas coações sociais anteriores, sem que isso implique necessariamente mais liberdade (se considerarmos experiências autoritárias em ascensão no contexto de inteligência artificial, algoritmos, plataformas e redes digitais). Este fluxo de construção de coletivos é articulado com a problemática da circulação exposta na seção anterior, em que Verón acentua a “defasagem” de sentidos entre a produção e o reconhecimento (Cingolani, 2019) ou a não linearidade do processo de sentido entre produção e recepção, a partir do seguinte esquema: Figura 3 – A circulação com foco no discursivo Fonte: Boutaud e Verón, 2007, p. 3. Neste esquema, produtores (à esquerda) e receptores (à direita) estão em posições diferenciadas em termos discursi- vos. O ponto de mediação é o discurso enquanto materialidade. Trata-se de investigar as relações entre o que Verón conceitua como “gramáticas de produção” e “gramáticas de reconhecimen- to” – como tinha abordado em seus estudos iniciais, mas agora com uma complexidade maior. Nessas relações, os seus estudos acentuam processos que caracterizamos como defasagens entre essas duas instâncias. O esquema é assim formulado por Bou- taud e Verón (2007):
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