Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Jairo Ferreira 256 O principal ponto de complexidade que destacamos é que as defasagens entre “gramáticas de produção” e “gramáti- cas de reconhecimento”, neste livro (Boutaud; Verón, 2007), são pensadas em interface com as relações de construção de coletivos, incluindo-se aí os “esforços” de redução destas defasagens por “procedimentos estatísticos”: Como construir estes coletivos? Esta é a questão crucial dos estudos em recepção, questão tão mais complicada quando os meios mesmos estão produzindo coletivos (públicos, audiências, leitores), obtidos por procedimentos estatísticos cada vez mais sofisticados, no marco de seus esforços permanentes de articular da melhor maneira possí- vel a oferta e a demanda, reduzindo, tanto quanto possam, a defasagem estrutural crescente entre produção e reconhecimento (Boutaud; Verón, 2007, p. 4).12 A questão que se coloca é um duplo processo: de um lado, o que caracterizamos como explosão das defasagens (Fer- reira, 2016); de outro, os esforços das instituições midiáticas para controlar esse processo (“articular lo mejor posible la ofer- ta y la demanda reduciendo, en tanto se pueda, el desfasaje es- tructural creciente entre producción y reconocimiento”), num contexto de novos meios (IA, algoritmos, plataformas e redes), que consideramos propício à potencialização da regulação da se- miose midiática e, ao mesmo tempo, à proliferação de coletivos. 1.3. Uma pedra que modifica a obra? Num de seus últimos artigos (Verón, 2014), numa formulação que consideramos de meta-análise, há um giro episte- mológico que traz vários questionamentos a formulações ante12 “Cómo construir estos colectivos: esa es la cuestión crucial de los estudios en recepción, cuestión tan más complicada en tanto los medios mismos están pro- duciendo constantemente sus propios colectivos (públicos, audiencias, lectorados) obtenidos por procedimientos estadísticos cada vez más sofisticados, en el marco de sus esfuerzos permanentes por articular lo mejor posible la oferta y la demanda reduciendo, en tanto se pueda, el desfasaje estructural creciente entre producción y reconocimiento” (Boutaud; Verón, 2007, p. 4; tradução do autor).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz