Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Jairo Ferreira 258 O ponto central aqui é que o fenômeno midiático da exteriorização dos processos mentais tem uma consequência tripla. Em termos peircianos, mais uma vez, sua primeiridade consiste na autonomia dos emissores e receptores dos signos materiali- zados, como resultado da exteriorização; sua se- cundidade é a subsequente persistência no tempo dos signos materializados: alterações de escalas de espaço e tempo se tornam inevitáveis, e a nar- rativa justificada; sua terceiridade é o corpo das normas sociais definindo as formas de acesso aos signos já autônomos e persistentes. Em outras pa- lavras: criação tríplice de diferenças. Neste contexto, a midiatização é apenas o nome para a longa se- quência histórica de fenômenos midiáticos sendo institucionalizados em sociedades humanas e suas múltiplas consequências. A vantagem conceitual da perspectiva de longo prazo é nos relembrar que o que está acontecendo nas sociedades da modernidade tardia começou, de fato, há muito tempo (Verón, 2014, p. 15-16). Este giro epistemológico demanda uma rediscussão da obra de Verón, considerando formulações anteriores que são contraditórias, quando não antagônicas, com essa nova hipótese. Não sabemos se isso ocorrerá, mas é uma discussão central inclusive para reconfigurar o conceito de midiatização no âmbi- to desta corrente da América do Sul por ele inaugurada. Apresentamos, na próxima seção, algumas contribuições para esta reconfiguração. 2. Inferências transversais: a midiatização a partir de apropriações diversas Importante, nestas reflexões, conservar as proposições sobre a circulação, defasagens e construção de coletivos e regu- lação, que não perdem potencial explicativo mesmo se conside- rarmos a hipótese de que a midiatização pertence a um longo ciclo histórico, conforme o artigo de Verón (2014) citado acima. Este núcleo reflexivo – circulação, defasagens, construção de

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