Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Midiatização, circulação e semiose social: referências para análise crítica de plataformas e algoritmos 259 coletivos e regulação – é valioso para pesquisas empíricas – e permite inferências ascendentes, da microanálise até a meta-a- nálise, passando pela macro e mesoanálise. Outra proposição que está subjacente ao núcleo reflexivo acima é a compreensão da midiatização como um processo vinculado, inclusive, à diferenciação do espaço público, privado e instituições (direito, religião, estado, exércitos, por exemplo), ou seja, os meios-dispositivos materializam diferenciações e, ao mesmo tempo, “conectam” atores e instituições não midiáticas emergentes, favorecendo a constituição e construção de novos coletivos sociais (da ágora aos eleitores, às redes de resistência, etc.). Ou seja, a midiatização, portanto, é central na diferenciação e construção do espaço público. Inferimos que essa proposição é importante para pensar numa genealogia da midiatização re- lacionada à construção midiática do espaço público. Nessa for- mulação, a genealogia da midiatização requer a investigação dos meios que “conectam” o espaço privado e as instituições que se diferenciam socialmente na medida em que se midiatizam. Isso é, o processo de institucionalização e, ao mesmo tempo, de constante reconfiguração do ambiente institucional (institui- ções midiáticas e não midiáticas) passa a ser um dos operadores epistemológicos para pensar a genealogia da midiatização, mas – ao contrário do que diz a corrente institucionalista do “norte” – num processo de construção das mutações, especialmente pelos direcionamentos auspiciados pelos coletivos que se constituem nas interfaces entre meios, instituições e atores previamente existentes P . orém, aceitar esta proposição inferencial preliminar, que condensa nosso entendimento, leva-nos a questionar a proposição de que a midiatização se refere a qualquer meio material construído pela espécie (da flecha ao discurso, por exemplo). Se a midiatização deriva de institucionalização e di- ferenciação (meios, instituições e atores), é inclusive posterior às “gravuras rupestres”, mas, ao mesmo tempo, é anterior ao contemporâneo que emerge com as sociedades de mercado no século XV-XVI. Ou seja, os marcadores de uma genealogia são aqueles que resultam em mudanças diferenciadoras e conectoras, de meios, instituições e atores (incluindo os processos construtivos de novos coletivos, novas regulações e defasa-

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