Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Jairo Ferreira 260 gens). Consideramos que as narrativas – das poéticas às religiosas –, a retórica e argumentação, como formas do discurso, são marcos importantes nesse processo histórico, pois reen- quadram textos, sons e imagens antes construídos pela espécie, diferenciando produtores de discurso (especialistas, que se organizam em instituições) e consumidores (situados na vida privada), gerando o espaço público entre eles. Isso não requer, necessariamente, a escrita, pois muitas experiências sociais (exemplo: a Inca, na América Latina) se diferenciaram em instituições, espaço público e privado sem desenvolver a mediação da escrita como dispositivo midiático. Com essa proposição preliminar, as perspectivas fun- dadas por Eliseo Verón são ponderadas para nos aproximar da construção da problematização da midiatização no momento atual. A primeira reflexão é relativa à crescente diferenciação da produção social de sentido derivada da proliferação de meios midiáticos disponíveis para as interações entre institui- ções e vida privada. Estabelece-se, assim, um paradoxo: por um lado, há um processo de diferenciação de sentido. Disso deriva uma “explosão de defasagens”, pois se complexificam as matri- zes meios, instituições e atores, proliferando coletivos que buscam inteligibilidade e sentido na multiplicidade de interfaces que se sucedem. Por outro lado, avança a realização do projeto cibernético (materializado em Inteligência Artificial, algoritmos e plataformas), não como utopia, mas como regulação (inclusive autoritária) da produção social de sentido. Do ponto de vista metodológico, para a compreensão dos algoritmos é necessário ir além da análise das represen- tações em imagens, textos, sons e esquemas em discursos ou seus fragmentos. É central a compreensão das lógicas dos algoritmos como dispositivos. Para isso, voltamos a uma semiótica de Peirce, que nos oferece um caminho para isso, na medida em que permite a compreensão da semiose na perspectiva da lógica. Trata-se, então, de compreender as lógicas que organi- zam signos, discursos sociais e seus fragmentos em imagens, textos, sons, esquemas, sinais, etc. Este é o objeto da próxima seção.

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