Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Midiatização, circulação e semiose social: referências para análise crítica de plataformas e algoritmos 263 Aqui podemos reconhecer uma tentativa de negar a diferença entre mapa e território, e de voltar à ab- soluta inocência da comunicação por meio de puros sinais de humor ([1955] 1972, p. 183).15 Keane (2018) explora essa questão na perspectiva da ideologia. A não consciência da diferença entre mapa e território é central no que o autor chama de ideologia semiótica (não diferenciação entre o signo e seu objeto; ou, em termos de Peirce, a não diferenciação entre meio sígnico e objeto). Este paradoxo é importante: por um lado, o objeto é inacessível, em si (sempre será acessado por um signo); ao mesmo tempo, se a consciência não diferenciar meio sígnico e objeto a que se refere, tende (aqui estamos generalizando) a sacralizar o meio e o objeto confluído como indiferentes. Essa sacralização, realizada inclusive no pro- cesso de midiatização, em plataformas, configura o fenômeno caracterizado por Baudrillard como simulacro. Essa questão se atualiza conforme cada mapa (em di- versos momentos da história). Agora, a questão se coloca na relação dos mapas de inteligência artificial e algoritmos e seus respectivos territórios. A teoria social crítica tem, aí, uma função importante: dessacralizar a relação meio-objeto, portanto, des- sacralizar a relação mapa-território quando se pensa, também, a IA e os algoritmos, assim como fez em relação ao discurso, ima- gens, sonoridades, etc. Isso não significa um desafio messiânico. Considerando a questão da circulação, a diferenciação entre mapa e terri- tório é acionada nos processos de circulação, em que a recepção não se reconhece como parte dos territórios designados. Porém, este não reconhecimento nem sempre é fundado na diferencia- ção entre mapa e território, meio e objeto, pois, não raro, co- letivos em construção reproduzem a lógica da indiferenciação entre meio-objeto ou entre mapa e território, como evidenciam 15 “In the dim region where art, magic, and religion meet and overlap, human be- ings have evolved the ‘metaphor that is meant,’ the flag which men will die to save, and the sacrament that is felt to be more than ‘an outward and visible sign, given unto us.’ Here we can recognize an attempt to deny the difference between map and territory, and to get back to the absolute innocence of communication by means of pure mood-signs” ([1955] 1972, p. 183; tradução do autor).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz