Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Perspectivas e questionamentos sobre o advento das plataformas culturais e de informação 29 1. Introdução Inquestionavelmente, os trabalhos de investigação e as publicações sobre o fenômeno das plataformas multiplicam-se e é difícil elaborar uma avaliação fundamentada e atualizada. Esta efervescência pode ser explicada porque, em quase todo o lado, os investigadores tomaram consciência da importância do fenômeno tardiamente. No entanto, isto não justifica concentrar a atenção apenas nas grandes plataformas e, em particular, naquelas desenvolvidas em diferentes continentes pelos Big Five americanos e outros grupos como a Netflix ou a Disney, bem como nos seus concorrentes chineses, como o TikTok, sem ligar as observações e conclusões aos desenvolvimentos anteriores na comunicação mediatizada, por mais importantes e decisivas que sejam as mutações atuais, observáveis a partir da segunda década deste século. Para evitar estas lacunas e avançar na compreensão fundamentada do posicionamento atual das plataformas, e especialmente daquelas especializadas nas esferas da cultura e da informação, devo antes de tudo colocar a presente contribui- ção na continuidade das minhas anteriores intervenções neste Seminário. 2. Lembretes e preliminares A abordagem que proponho à mediatização – um con- ceito com significados plurais e, portanto, ambíguos – pode ser descrita como sociossimbólica; difere fundamentalmente de outras abordagens, em particular da abordagem semioantropológi- ca (dos organizadores do Seminário) e, obviamente, das visões do “senso comum”. Insiste no fato de as técnicas digitais serem dispositivos sociotécnicos objetos de uma construção social, variável consoante os países e regiões do mundo (daí a importância a dar às estratégias e às práticas sociais), numa temporalidade a ser especificada. E, ao fazê-lo, ajuda a identificar os modos de produção do sentido dos produtos oferecidos e as mutações dos próprios espaços discursivos, em condições renovadas. O que caracteriza a atual gestão dos fenômenos infocomunicacionais pelos gigan-

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