Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Nunca fomos midiatizados 297 da sociedade e para a vida comum. A questão não é tanto se e em que medida a sociedade é midiatizada, mas sim de que forma ela é moldada pelas tecnologias dos meios de comunicação, as formas como são organizadas e que potenciais de construção de significado oferecem. 2. Abordagens europeias da midiatização A maioria das discussões sobre midiatização parte do pressuposto axiomático de que estamos lidando com um pro- cesso em que algo que em algum momento não foi afetado pela “mídia” passou a sê-lo, ou, alternativamente, tornou-se assim em um grau mais elevado do que antes. Já discuti em outro lugar as três abordagens da midiatização (Bolin, 2014), de modo que neste artigo basta delinear suas diferenças muito brevemente. No contexto europeu, a abordagem mais popular é a abordagem institucional, baseada na teoria da lógica das mídias de Altheide & Snow (1979), e com representantes proeminentes nos acadê- micos escandinavos Stig Hjarvard (por exemplo, 2013) e Kent Asp (1990). O seu foco está nos meios de comunicação social como instituições, muitas vezes a instituição do jornalismo e também muitas vezes em relação à instituição política. A sua perspectiva temporal é de meados do século XX em diante, e por “meios de comunicação” são frequentemente designadas as ins- tituições de comunicação de massa como a BBC ou a Globo. Epistemologicamente, também tem como ponto de partida o fato de as instituições sociais (como a política) terem sido menos de- pendentes dos “meios de comunicação social”, enquanto o oposto se aplica à atualidade (veja um bom exemplo em Strömbäck, 2008). Esta abordagem faz sentido se por meios de comunicação entendemos os meios de comunicação de massa, e por política entendemos a política parlamentar nas democracias de massa, o que ocorre mais frequentemente no caso da abordagem institu- cional. Naturalmente, o debate político e a formação de opinião sempre envolveram tecnologias de comunicação, desde as tec- nologias retóricas praticadas, por exemplo, nas cidades-Estado gregas até os panfletos impressos da Reforma, mas, nas democracias de massa, a formação de opinião política depende dos

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