Nunca fomos midiatizados 299 como pano de fundo a forma como Baudrillard define a comunicação. Inspirando-se nas teorias antropológicas sobre econo- mias de dádiva e troca simbólica (Mauss 1925/1990), Baudril- lard constrói a sua definição de comunicação no diálogo entre comunicadores co-presentes. O que caracteriza os meios de comunicação de massa é que eles se opõem à mediação, são intran- sitivos, fabricam a não comunicação – se aceitar- mos a definição de comunicação como uma troca, como um espaço recíproco de fala e resposta, e, portanto, de responsabilidade. Em outras palavras, se ela for definida como algo mais que a simples emissão/recepção de informação (Baudrillard 1985, p. 577). A comunicação, então, é, para Baudrillard, um diálogo em pé de igualdade, levando ao estabelecimento de uma rela- ção social entre dois sujeitos. Todas as outras formas de disseminação de informações, etc., são “simulação” (Baudrillard, 1976/1993). Historicamente, isto significa que ele modela a comunicação a partir da forma mais básica de troca discursiva entre humanos, de tal modo que todas as formas subsequentes se tornem desvios. O seu argumento é, no entanto, que as pistas simbólicas utilizadas na comunicação da fala humana são alteradas na mediação, uma vez que os meios tecnológicos permitem e restringem vários aspectos da comunicação. Como ele expressa em Troca Simbólica e Morte, Cada imagem, cada mensagem midiática e tam- bém cada objeto funcional circundante é um teste. Ou seja, com todo o rigor do termo, desencadeia mecanismos de resposta de acordo com estereó- tipos ou modelos analíticos. O objeto hoje não é “funcional” no sentido tradicional do termo: ele não serve, mas testa você. Já não tem nada a ver com o objeto de ontem, tal como a informação “midiatizada” não tem a ver com a “realidade” dos fatos. Tanto o objeto quanto a informação já re- sultam de uma seleção, de uma sequência editada de ângulos de câmera, já testaram a “realidade” e
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