Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Göran Bolin 304 Tal como Verón, Williams insiste em ver a comunicação como uma parte indissociável da atividade humana e da realida- de social. O colega de estudos culturais Stuart Hall (1973/2021) alinha-se com esta abordagem, e até faz referência a Verón no seu artigo “The Determinations of News Photographs”. As abor- dagens culturalistas de Williams e Hall, com o seu foco na cons- trução de significado, estão bem alinhadas com a abordagem antropológica de Verón e dos seus seguidores e colocam a in- terpretação humana no centro. Devemos recordar que as ideias mais difundidas de Stuart Hall (1973) no seu modelo de “codificação/decodificação” da comunicação têm o “texto como discur- so significativo” no seu centro. De forma semelhante a Verón e Williams, Bruno Latour (1991/1997) – na sua crítica da ciência, Jamais fomos modernos – defende uma concepção antropológica e holística das relações entre natureza, sociedade e discurso, apontando que estes foram erroneamente separados uns dos outros. O que Latour chama de “discurso” equivale ao que Verón chama de “semiose” e Williams chama de “comunicação”. Além disso, com a afirmação de que “jamais fomos modernos”, Latour aponta para o fato de que a separação entre natureza e sociedade que foi feita durante a mo- dernidade – pelo que ele chama de “os modernos” – é cada vez mais difícil de manter e que, na verdade, desde o início nunca houve uma distinção sustentável. Por analogia, poder-se-ia sus- tentar que a separação feita na teoria da midiatização entre “os meios de comunicação social” e “a sociedade” é falsa e que estes últimos sempre foram, de fato, uma parte integrante da socieda- de. Poderíamos até sustentar que a comunicação e as tecnologias de comunicação são, na verdade, constitutivas da sociedade. Assim, se a comunicação já é parte integrante da so- ciedade, os meios de comunicação – as tecnologias midiáticas – também o são. Sempre, desde as primeiras culturas orais, tive- mos tais meios de comunicação: tecnologias mnemônicas como rimas, métricas, etc., ou pinturas rupestres, como o exemplo dado por Marcondes (2022). Estes meios mudaram ao longo da história humana e alargaram as suas formas de funcionamento, o que naturalmente teve um impacto na qualidade e no caráter da sociedade. Portanto, a questão de saber se fomos ou não mi-

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