Comunicação e midiatização entre deuses e homens 313 de natureza tecnológica; trata-se, pois, de uma ação de natureza militar, desenvolvida em conformidade com um plano. Se Fou- cault é responsável pela proposição metodológica da descrição da ação, decorrente da aplicação de táticas e estratégias, Agamben salienta, sobretudo, a dimensão militar, comum à adoção de táticas e estratégias para a consecução de uma ação. Se Foucault propõe a dimensão metodológica de um dispositivo, tendo em vista evidenciar origens de táticas e estratégias, Agamben pro- põe que elas apresentam uma intencionalidade, subjacente a qualquer dispositivo, e define: Generalizando posteriormente a já bastante am- pla classe dos dispositivos foucultianos, chamarei de dispositivo qualquer coisa que tenha, de algum modo, a capacidade de capturar, orientar, determi- nar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes (Agamben, 2009, p. 40). Observa-se, nessa definição, que um dispositivo utiliza táticas e estratégias de modo prático e pragmático, no sentido de produzir uma consequência. Nesse sentido e enquanto tec- nologia de comunicação/informação, os dispositivos midiáticos se apropriam de táticas e estratégias para capturar, modelar, controlar. Toda mídia é, portanto, uma estratégia de poder que se exerce sobre alguém, alguma realidade ou estado de coisas: o poder é alguma coisa que opera através do discurso, já que o próprio discurso é elemento de um dispositivo estratégico de relações de poder (Foucault, 2010, p. 253). Indo além da dimensão verbal insinuada pela adoção da palavra discurso, mas conforme o sentido da citação e dando continuidade ao que se pretende estudar, a mídia é poder exercido através de um dispositivo estratégico. Mas qual é o objetivo da mídia? O que pretende? Trata-se realmente de um poder ou de um poder que, exercido a partir de um consenso entre sujeitos que emitem e recebem a comunicação/informação, é um poder que procura estabelecer, mais do que uma captura ou con- trole, um consenso consentido?
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