Lucrécia D’Alessio Ferrara 314 3. Mídia: consenso consentido Desde McLuhan, entendem-se as mídias como extensões do homem, e, nesse sentido, é expressiva a seguinte afirmação: Numa cultura como a nossa, há muito acostumada a dividir e estilhaçar todas as coisas como meio de controlá-las, não deixa, às vezes, de ser um tanto chocante lembrar que, para efeitos práticos e ope- racionais, o meio é a mensagem. Isso apenas sig- nifica que as consequências sociais e pessoais de qualquer meio – ou seja, de qualquer uma das ex- tensões de nós mesmos – constitui o resultado de novo estalão introduzido em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nós mesmos. [...] A reestruturação da associação e do trabalho huma- nos foi moldada pela técnica de fragmentação, que constitui a essência da tecnologia da máquina. O oposto é que constitui a essência da tecnologia da automação. Ela é integral e descentralizadora, em profundidade, assim como a máquina era fragmen- tária, centralizadora e superficial na estruturação das relações humanas (McLuhan, 1969, p. 21 e 22). Portanto, e enquanto extensão do homem, a adesão à mídia é inerente a um consenso obrigatório de automático consentimento. Através da mesma observação sutil e, à época do autor, um tanto polêmica, esse consenso consentido é con- sequência da mídia e imposto pela sua própria natureza, que, consentida, transforma-se em lei de modos de pensar. Entretanto, entende-se que meio não se refere, apenas, às características tecnológicas de um novo meio, mas, ao contrário, refere-se ao novo ambiente relacional criado e proposto pelo uso de nova tecnologia; ou seja, todos os meios são extensões do homem, na medida em que lhe oferecem outros padrões ambientais e lhe ensinam outro modo de viver e sobreviver. Os ambientes são ampliações mentais. Os meios são extensões do homem, mas lhe propõem outro modo de viver, tão envolvente que ele os consi- dera consequência natural da mídia: “The artist is the person who invents the means to bridge between biological inheritan-
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