Lucrécia D’Alessio Ferrara 316 Na complexidade desse território, parece não haver caminhos provados, não há letramento estabelecido ou desejá- vel, porque a midiatização digital se apresenta sempre e quase, a cada dia, como se nova fosse. Nessa novidade tomada como recorrência do já vivido, embora talvez não apreendido de modo suficiente, exige-se um letramento que, como um poder ser, apresenta-se como pacote de regras transmissíveis, prontas a serem repassadas em uma aprendizagem tão mimética quanto desinteressante. Vivemos um cotidiano midiático, mas já não so- mos ingênuos, e sim exigentes e atentos a outro saber, diferente do anterior letramento exigido pela imprensa. Atualmente, já não se fala em alfabetização que se referia ao domínio da sintaxe verbal como parâmetro de saber, requerido pelo poder social. Na atual realidade, não se fala mais em alfabetização, mas em letramento (Forsman, 2020) que nos leva a estar atentos aos im- previsíveis lançamentos das próprias novidades do mercado dos meios digitais e respectivas tecnologias concentradas em dispo- sitivos móveis ou fixos. Exige-se estar atento a um metameio do mercado, consciente da revolução que provoca, mas diferente do que antes ocorreu com o cinema ou a fotografia em relação à visualidade e à imagem como distintas formas narrativas (Ma- novich, 2006, p. 49). O homem contemporâneo parece estar consciente das possibilidades culturais, econômicas e sociais do digital; parece querer acreditar que o domínio das estratégias e táticas do digital constitui um saber que significa poder. Porém, para Forsman, esse letramento exige uma crítica do saber e do poder que lhe é inerente. Para Foucault (2010, p. 14), esse saber deve se ocupar da história, entendendo-a como “uma técnica de demolição crítica”, e surge como necessidade de entender a cul- tura que, sem esquecer, excluir ou rejeitar o passado, procura uma nova identidade ou novo saber que, como um valor, poderá ser capaz de criar novo poder. A tecnologia escreve uma teoria do poder estabelecida como sistema de práticas identificadas como estratégias da modernidade, para a qual a ciência se transformou em tecnologia e a verdade, em conhecimento de táticas e funcionamentos de um dispositivo tecnológico Entre estratégias e táticas se produz um jogo que, apoiando-se em um programa, constitui prática que utiliza dispositivos desenvolvidos através de plataformas e algo-
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