Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Lucrécia D’Alessio Ferrara 318 Remediando umas às outras, as mídias se apreendem mutuamente, renovam-se, refazem-se, remontam-se: as mídias não são novas e os processos de mediação precisam ser estudados através das respectivas transformações que assinalam dimensões históricas. Essa compreensão exige que sejamos capazes de rever as mídias digitais a fim de pergun- tar-lhes: quem são ou pensamos que são? Como nos atingem? Para que servem ou como nos servem? Que fazer com elas ou como nos mediatizam? Essas respostas são necessárias, a fim de que possamos entender as consequências que produzem no modo de subsistência ou nos valores que entendem dispo- nibilizar. Mais do que nunca, as novas mídias exigem aquela demolição crítica. As respostas àquelas perguntas exigem aquele saber que, antes de ser um poder, é uma forma de aprender a ver a história e saber como outras formas de poder aprenderam outros e novos saberes. Saber e poder não são estáticos nem estanques, exigem ser revistos como mídias em transição tra- duzível. Uma mídia tem sua realidade marcada pela resistência de outra mídias, que se remedeiam de ontem para hoje e nos levam a observar que nada é definitivo. Toda tradução é midiática, sendo histórica! Entretanto e embora escritas no tempo da história, as mídias não são simplesmente veiculativas ou transmissivas; ao contrário, a remediação exige que vejamos, em cada mídia, seu passado histórico, a fim de ser possível apreender como as inovações tecnológicas contribuíram para o nascimento de nova mídia, ou seja, como as traduções tecnológicas nos ensinam a ver, na função presente, a história das tecnologias. Essa tradução nos ensina que os novos meios são inspirados pelos antigos e exigem a descoberta desse saber, a fim de ser possível descobrir o saber ver, com a prudência disponível para descobrir o que é novo, sem reinventar a roda. Na remediação nada é definitivo e nada começa do zero: “[…] because all mediations are both real and mediations of the real, remediation can also be understood as a process of reforming reality as well” (Bolter e Grusin, 2000, p. 56).

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