Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Comunicação e midiatização entre deuses e homens 321 Se os deuses se faziam reconhecer pelos mitos que os protagonizavam, os ritos eram midiáticos e análogos aos meios que, hoje, nos levam a reconhecer as práticas e técnicas que nos permitem comunicar. Não há comunicação sem meios comunicantes e não se pode afirmar qual deles tem a precedência, em- bora os meios pareçam liderar a competição. O homem cria a tecnologia que é sua moderna cosmogonia midiática, mas a ela se submete como faziam os antigos gregos, embora eles tenham criado os mitos para terem a segurança de uma imunização du- radoura. Se os deuses se aproximavam da antropologia através dos ritos midiáticos, na atualidade, os homens se acreditam quase deuses: os meios humanizam os deuses, mas divinizam os homens, e, nessa troca, ambos se imunizam. Os meios contemporâneos são igualmente imunizadores. Mas de que trata a imunização? 8. A imunização ontem e hoje Imunidade é conceito polimorfo que se aplica à vida, ao corpo, às relações entre os homens e à política. É um concei- to biopolítico que, conforme Foucault (2010, p. 45-48), surge, desde o século XVIII, relacionado ao conceito de população e seu cuidado, que surge politicamente ao orientar a arte de gover- nar: a imunização estabelece as diretrizes da arte de governar. Seguindo o mesmo caminho trilhado por aquele filósofo, diz Esposito: [...] Señalemos, para comenzar, que la categoría de “inmunidad”, incluso en su significado corriente, se inscribe precisamente en el cruce de ambos polos, en la línea de tangencia que conecta la esfera de la vida con la del derecho. En efecto: así como en el ámbito biomédico se refiere a la condición refracta- ria de un organismo vivo, ya sea natural o inducida, respecto de una enfermedad dada, en el lengua- je jurídico-político alude a la exención temporal o definitiva de un sujeto respecto de determinadas obligaciones o responsabilidades que rigen nor- malmente para los demás (Esposito, 2006, p. 73).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz