Lucrécia D’Alessio Ferrara 322 Seguindo as ponderações citadas por Esposito, observamos que a biopolítica obedece a paradigmas que, além de políticos, acompanham reflexões da ciência biológica. No eixo de cruzamento desse tipo de reflexão, pondera-se que a imunização se refere a domínios, até certo ponto, estranhos ao hori- zonte das novas mídias e, sobretudo, à midiatização que delas decorre. Tomado no sentido biológico, o conceito de imunização se refere à manutenção do que é saudável para o corpo e para o espírito e, nessa linha de raciocínio, leva em considera- ção a contribuição de Darwin com a proposição da seleção das espécies biológicas. A partir de Darwin, observa-se que a relação do con- ceito de imunização com a biologia ganha dimensões que o associam à formação e manutenção de uma população que, para ser protegida contra os males à saúde, deve contar com a sa- bedoria de saber governar. A saúde do corpo e do espírito está relacionada à política, e, nas três dimensões, entende-se que sa- ber governar é cuidar para ser possível exercer e usar o poder. Mais uma vez, entrelaçam-se saber e poder, e essa reminiscência não é ocasional ou sem interesse para esse trabalho. Nessa re- miniscência, estão envolvidos dois elementos que caracterizam o ambiente histórico que marcou o Estado moderno e se desenvolveu, não sem embates, na modernidade. O moderno embalou o século XIX até as duas primei- ras décadas do século XX e se desenvolveu na modernidade que compreende a segunda década do século XX até a atualidade. Esse circuito temporal compreendeu as definitivas categorias que caracterizam a subjetivação e as manifestações incontestáveis do governo como totalitarismo e como exercício de con- trole e poder. Se o século XIX foi marcado por tendências como racionalismo, individualismo e universalismo, a segunda metade do século XX e as primeiras décadas do século XXI estão sen- do marcadas pela subjetivação que envolve outras dimensões do sujeito. Se, no primeiro caso, temos um sujeito entendido como paciente de disciplina e controle midiáticos, no segundo, temos o sujeito procurando entender a mídia que o alcança, o modo como ela o atinge e seu papel diante dela, tornando-se, pouco a pouco, senhor da sua vontade que se automidiatiza, midiatizando-se, porém decidindo-se.
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