Algoritmo digital interacional 329 a expressão, não se trata de algoritmo em sentido matemático rigoroso – no qual o problema, os passos de encaminhamentos e os resultados são necessários, lógicos e predefinidos. Deveríamos então, com maior exatidão do que a assimilação feita por Patel, afirmar que os algoritmos digitais em pauta procuram “algoritmizar” determinados processos que a sociedade costuma padronizar através de práticas culturais. Com isso, não se trata mais de receitas – mas de bolos industria- lizados com grande produção intensamente padronizada. O conceito de algoritmo (em matemática) existe pelo menos desde o século 9. Desde meados do século 20 os traba- lhos da informática mostram uma concentração extraordinária de algoritmos. Por que só agora a palavra entra em circulação e, no ambiente geral do senso comum, fala-se em algoritmos como se fosse uma novidade? A sensação de novidade se deve ao surgimento de um tipo especial de algoritmo, que se desenvolve no século 21. Sua especificidade não é propriamente “ser um algoritmo digital” – mas ser um “algoritmo digital interacional”. Volta-se para operar interações entre participantes sociais, para os quais o algoritmo faz seleções entre variações captadas no ambiente social de sua atenção. É apenas em decorrência da entrada de algoritmos digitais no âmbito interacional da sociedade que os especialistas destes processos resolvem didatizar seu sentido pela referência metafórica a receitas de bolo e outros processos sociais mais ou menos sistematizados. Além da didatização, a explicação parece buscar uma espécie de tranquilização redutora de possíveis in- quietações perante o que se conhece pouco. Posta essa pretendida similitude entre os algoritmos digitais (interacionais) e padrões tradicionalmente desenvolvi- dos em modo cultural, é preciso fazer uma distinção clara entre padrões culturais manejados por todos em uma sociedade e os processos, mais recentemente introduzidos em nossas práticas, resultantes da informatização social crescente. A distinção interessa porque os algoritmos digitais não têm ainda todos os seus aspectos apreendidos na percepção so- cial e não são controlados pelos usuários no que se refere a seus possíveis efeitos. Meu objetivo, neste artigo, depois de refletir sobre a distinção entre processo cultural e processo algorítmico
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