José Luiz Braga 330 de interação, será o de assinalar alguns desafios comunicacionais que esse tipo de algoritmo gera e que pedem estratégias de enfrentamento pela sociedade. 2. Padrões interacionais emmodo cultural Recentemente, a revista Matrizes, da USP, publicou arti- go emque abordo a comunicação como o trabalho da diversidade (Braga, 2022). Trata-se de uma perspectiva praxiológica evolu- cionista, para observar condições interacionais de estabilidade e de transformação que movem a sociedade segundo dinâmicas comunicacionais. O que no presente texto podemos chamar de “algoritmos sociais flexíveis” (padrões culturais habituais de interação) corresponde ao que no artigo citado conceituo como “processa- dores comunicacionais”. Estes comportam padrões (a parte que poderia ser caracterizada como algorítmica), mas incluem tam- bém flexibilidade de ajuste a situações específicas, assim como a possibilidade de redirecionamentos, no caso, atualmente frequente, de aparecimento de circunstâncias menos habituais. Emoutro artigo (Braga, 2023), parapensar sobreproble- mas interacionais entre os seres humanos, faço referência a uma proposição de Hannah Arendt, em A condição humana (2018): Se os homens não fossem diferentes [...] não precisariam de discurso nem de ação para se fazerem entender – sinais e sons bastariam para comunicar necessidades e desejos imediatos (p. 175, tradu- ção nossa, grifo nosso). Exatamente porque somos diversos, precisamos de discurso e de ações – para nos entendermos – e sobretudo para agirmos no mundo em comum que constitui a sociedade. Ajustamos as diferenças criando determinados conjuntos de regras sequenciadas – por meio de gestos comunicacionais, em apro- ximação sucessiva. Quando essas tentativas, fazendo seleções razoáveis, se ajustam, acabam por constituir um arranjo dispo- nível para a sociedade, que podemos metaforizar como um algoritmo interacional flexível.
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