Algoritmo digital interacional 331 Dentro de uma cultura, para cada tipo de questão reconhecida e mais ou menos organizada em arranjos vivencia- dos, conjuntos de regras culturais informam aos participantes sociais como devem interagir, por suas ações e seus discursos. Interagimos cotidianamente com base nestes padrões culturais para a vida em comum. Esta descrição é razoável, mas incompleta – pode criar uma impressão de que a diversificação é um problema e que os processos estabelecidos são a solução. Nesse ângulo, o trabalho comunicacional seria apenas o processo de gerar e de manter padrões. A questão comunicacional se resolveria pelo esforço de elaborar “algoritmos”. Mas o quadro assim expresso é par- cial. Estaríamos esquecendo que a diversidade humana é uma vantagem adaptativa. A espécie humana só conseguiu se de- senvolver com base em sua flexibilidade diversificadora, para enfrentamento dos múltiplos desafios naturais e sociais. Não geramos uma cultura humana – mas uma pluralidade inventiva de culturas. Não nos adaptamos para um ambiente determina- do – diversificamos comportamentos para agir sobre múltiplos ambientes, e conforme as solicitações do contexto. Em última análise, tal adaptação sempre em curso, em composição com a geração de novos objetivos e criação de estratégias é o que leva à historicidade da espécie humana. Lembro que tais processos (normas, linguagens, táticas culturais), que funcionam como “algoritmos sociais”, podem ser manejados por seus usuários para agir, dizer e participar con- forme suas táticas e preferências pessoais, fazendo os ajustes correspondentes a sua percepção das coisas. Assim, o trabalho da diversidade que caracteriza a comunicação não é apenas o de organizar padrões – mas é também um processo transformador. Implica um trabalho constante de geração de variações. A comunicação humana não é resultante de causalida- des deterministas nem de influências. Age pelo desenvolvimen- to de variações e por processos seletivos entre suas múltiplas dimensões de variação. Por isso mesmo, há uma grande variedade de processa- dores interacionais em uma mesma cultura – dos mais informais e flexíveis até os mais rigorosamente formulados.
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