Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

José Luiz Braga 332 Dois exemplos, nesse aspecto da formalização. Um dos mais formalizados é o das normas jurídicas (tanto no nível do sis- tema legal como nas disposições específicas da lei). Podemos re- ferir também – menos formalizadas – as rotinas jornalísticas que se desenvolvem como práticas bem experimentadas e previstas. O que quero sublinhar é que, em conjunto com os as- pectos regrados dos modos de fazer sociais, há sempre, nos espaços intersticiais, gestos de experimentação e discursos con- jecturais. A diversidade humana – na variedade das questões biológicas, do meio ambiente e dos processos sociais – exige uma atenção constante à variação das coisas, sempre moventes. Mesmo o sistema jurídico, necessariamente formalizado, prevê nos julgamentos estratégias para ajustar a aplicação da lei ao caso concreto. Além disso, exige reajustes frequentes, seja pelo surgimento de situações novas, seja pela constatação de que determinadas regras se mostram equivocadas ou levam a injustiças. É isso que move a atividade legislativa nas estruturas do Estado de Direito. * A sociedade não é simplesmente resultante de um con- junto de instituições sociais articuladas. A sociedade é também – e talvez sobretudo – estruturada por processos (que vamos reunir sob a noção de circulação) que atravessam essas insti- tuições, e os campos sociais, em modos diferenciados – gerando rearranjos na diversidade articulada, por meio de ações de ten- sionamento, de crítica social e de invenção, para enfrentar novos problemas e dar continuidade a ações em comum. É claro que essa circulação é longe de ser perfeita – comporta diferenças de acesso e de oportunidades, discrimina- ções, opressões, violências e todo um elenco de equívocos, injustiças e barreiras ao civilizacional. Ainda assim, uma sociedade minimamente viável implica uma intensa circulação de ações e discursos entre contextos diversos. Tal capilarização promove combinações da diversidade, sempre variáveis. Constatamos as- sim processos culturais “evolutivos” que constantemente geram variações (diversificação social) e realizam seleções (busca de articulação, de composições e de estabilidade). A sociedade é uma composição de composições (ver Braga, 2023).

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