Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Bernard Miège 34 • E, finalmente, a primazia cada vez mais observável da função de intermediação, muito pro- vavelmente incluída na apropriação do valor produzido (muitos autores têm insistido neste aspecto fundamental, mas sem conseguirem dar uma estimativa quantificada). 3. Por mais difundido que esteja hoje, o processamento algorítmico das relações produtor/consumidor, vendedor/cliente, bem como dirigentes/dirigidos, eleitos/eleitores, gestores/participantes, não escapa a questionamentos e críticas, sendo os prin- cipais deles: • O caráter secreto dos procedimentos, a ausência de regras éticas reconhecidas e a não publi- cação-discussão dos resultados (ainda mais do que anteriormente, com as técnicas clássicas de marketing); • Outra observação deve ser acrescentada: as grandes plataformas dominantes conseguiram, durante os períodos de confinamento sanitá- rio, oferecer habilmente os seus estoques de produtos audiovisuais (bem como novos filmes produzidos rapidamente) e apostar nas mudanças de usos (indo no sentido de consu- mo não linear de televisão), para ganhar rapidamente cotas de mercado. Esta estratégia, como apontam três autores, “[…] talvez condu- za a uma sobrevalorização da sua influência no ecossistema mediático. Seria, portanto, impor- tante documentar as práticas de produção e consumo que caracterizam outras plataformas de vídeo sob demanda” (Thoër, Boisvert & Nie- meyer, 2022, p. 30). Acrescentemos que esta observação pode certamente ser estendida à maioria dos produtos dos diferentes setores da indústria cultural. • A monopolização e o tratamento de dados por grupos e empresas, bem como por Estados, em situação de monopólio, como se reflete, por

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