Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

José Luiz Braga 342 Jairo Ferreira, em artigo apresentado ao GT de Epistemologia da Compós em 2020, aponta o risco da “imposição de modos de fazer”: A apropriação dos algoritmos sociais pelo campo de produção de algoritmos digitais [pode levar a] mutações dos modos de produção e, por estas mutações, a transformações das relações sociais, incidindo sobre as interações (p. 11). Em outro trecho do mesmo artigo referido acima, Ha- rari (2023) assinala riscos para a democracia: A democracia é uma conversação, a conversa de- pende da linguagem e, quando a própria lingua- gem é hackeada, a conversa é interrompida e a democracia se torna insustentável. Se esperarmos que o caos se instale, será tarde demais para reme- diá-lo (p. 4, tradução nossa). O que caracteriza a equilibração entre transformação social e busca de estabilidade possível, na sociedade, é o tensio- namento entre variações produzidas em diversos ambientes, em níveis de abrangência diferenciados que interagem e disputam seus objetivos distintos em vista de serem selecionados para uma inserção estável (sempre temporária) no tecido social. Os modos pelos quais se fazem as variações, as disputas entre estas, assim como os processos de seleção e inserção na estabilidade, caracterizam a sociedade incidindo sobre sua ética, sua cultura, seus modos de produção – e sobre a democracia. Do ponto de vista comunicacional, consideradas as in- terações sociais, uma sociedade democrática é definida não apenas pela forma de governo, mas sobretudo pelo fato de pessoas e grupos poderem – diversificadamente – desenvolver suas va- riações de opinião e comportamento; de fazerem interagir suas ações e discursos em ambientes mais abrangentes; e de verem suas preferências e atitudes submetidas a seleções diversifica- das e justas, sem opressão e com a possibilidade concreta de aceder a inserções transformadoras do contexto por acolhimen- to ampliado.

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