Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Algoritmo digital interacional 343 Os riscos que o algoritmo digital traz a essa equilibração flexível do social não se manifestam isoladamente. Ao con- trário, tais questões se interferem de modo aleatório, se refor- çam mutuamente, se compõem. Ao enfatizar o enfrentamento dos desafios, este artigo não assume, porém, uma postura neo- ludita em relação ao crescente uso de algoritmos interacionais – não há dúvida de que essa possibilidade tecnológica mostra, como referimos, caminhos relevantes para muitas questões so- ciais e operacionais em diferentes especialidades – técnicas, ju- rídicas, médicas, educacionais. Entretanto, os algoritmos digitais interacionais têm evidenciado que tais procedimentos são ainda experimentais, eventualmente canhestros (quando não explicitamente mal-intencionados) e – como observamos – comportam riscos sérios para a sociedade. No ambiente político, no Brasil e em outros países, as táticas de impulsionamento têm resultado em restrições sérias à deliberação democrática. No uso comercial, os algoritmos vagueiam entre o equivocado, o inoperante e, não raro, recomendações risíveis (que, entretanto, podem enganar os menos atentos). A perspectiva de enfrentamento se refere à necessidade de atenção para a amplitude da questão e para a superação dos riscos sociais envolvidos – dado o fato de que os sistemas segundo os quais se realiza a comunicação no ambien- te social são, ao mesmo tempo, geradores e sintoma dos modos de viver. Para enfrentar esses desafios, e para inscrever corri- queiramente os algoritmos digitais interacionais na sociedade, não me parece que a inteligência artificial seja suficiente. Os desafios e riscos apontados são daqueles para os quais não dispo- mos de algoritmos – não temos soluções desenhadas nem pas- sos definidos para obtê-las. Em contraposição aos desafios da inteligência artifi- cial, será preciso que inteligências naturais flexíveis, com seus processos tentativos e inferências abdutivas, se diversifiquem e se componham. Dependemos de experimentações, de conjectu- ras e de processos heurísticos. Não se trata de abandonar a inte- ligência artificial – mas de saber se seremos capazes de pensar e de sentir para além dela.

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