Conceituando o viés de comoditização na moderna troca de notícias algorítmica 43 A interação entre o consumo direto de mensagens noticiosas e o fluxo de comunicação interpessoal não é um fenôme- no novo. Representantes da escola empírica de estudos dos efei- tos da mídia (como Lazarsfeld, Kats, Klapper, etc.), em meados do século XX, apontaram este problema. Mas até a era digital, o papel dos boatos, da conversa boca a boca nunca havia sido considerado um viés industrial sério no setor de produção de notícias porque não era incluído no âmbito comercial reprodu- tível. A chamada Web 2.0, particularmente as redes sociais, má- quinas de busca, conteúdo gerado pelo usuário, está tornando o fluxo comunicacional paralelo cada vez mais comoditizado atra- vés da comoditização da atividade do prosumidor (a chamada prosumer-commodity [mercadoria de prosumidor] ou prosumer data-commodity [mercadoria de dados do prosumidor]). Em de- corrência disso, todo este âmbito de circulação interpessoal de boatos, conspirações, plataformas de assessoria ou consultoria, plataformas de compartilhamento de experiência, etc. se tornou um importante campo comercial comoditizado dominado por algoritmos proprietários. Esse campo passou a fazer parte de um grande universo midiático em que a fronteira entre a mídia profissional e o buzzfeed interpessoal é tênue. Em decorrência disso, a comoditização deste segundo âmbito de interação interpessoal via redes sociais pode afetar a distribuição de conteúdo noticioso profissional e formar um viés particular que molda nossas práticas de consumo e interpretação de notícias. Tal viés depende amplamente de algorit- mos proprietários das redes sociais corporativas. Consequente- mente, este setor se entrelaça progressivamente com o setor de produção profissional de notícias e com o consumo de notícias. Este artigo visa conceitualizar esse viés, examinando sua relação com os agentes industriais e especialmente com os chamados “ecossistemas” (grandes empresas de tecnologia que pretendem midiatizar toda a nossa experiência cotidiana), que estão cada vez mais incluídos na cadeia de produção de empresas profissionais de notícias. Gerenciando a visibilidade do conteúdo, essas gigantes da tecnologia visam desempenhar um papel crucial no ecossistema de notícias e inventam novos algoritmos não apenas para gerenciar esta visibilidade, mas também para gerenciar
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