Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Interação plataformizada no mundo multipolar 63 ela exibe o confronto entre visões de exercício do poder político, o qual comporta o exercício jornalístico em sociedades demo- cráticas e um outro, considerado próprio de sociedades autocrá- ticas. No Brasil, análises empíricas sobre a plataformização do jornalismo permitem enunciar, inicialmente, a emergência de práticas jornalísticas em bases autocráticas. Despontam nelas características destacadas pela denominação de digitalização, o processo mestre que desatou a nova dimensão sociotécnica na qual vivemos há poucas déca- das e que tão profundas repercussões têm proporcionado para os processos comunicacionais. Ele traz uma característica que se apresenta dominante, a denominada datificação, para a qual os conteúdos se convertem anodinamente em amontoados de dados, os big data, próprios do momento da midiatização pro- funda. E, também, os processos não menos matemáticos que os anteriores, dos algoritmos. Sua capacidade de providenciar a particularização do consumo se tornou requerimento indis- pensável ao processo comunicacional midiatizado. São elemen- tos que ressaltam a importância da abordagem das mídias por sua linguagem quando submete conteúdos simbólicos a códigos matemáticos. As mídias digitais, caracterizadas por uma infraestrutura multipropósito e por acesso a conteúdo sob demanda, inauguram uma fase específica da midiatização chamada de di- gitalização. Uma característica da mídia durante a fase de digitalização é sua pervasividade, ou seja, algo que tende a espalhar- -se e infiltrar-se difusamente. Para Hepp (2020), tais condições caracterizam um novo estágio, o da midiatização profunda, um conceito que proporciona a articulação com noções convergen- tes ao fenômeno, como datificação e digitalização. A deep mediatization teria uma tradução problemática para a língua por- tuguesa, dado que o sentido de profunda presente no vocábulo deep do inglês remeteria para o sentido temporal de continuada, sustentada, em lugar do corrente entendimento espacial de pro- fundidade na língua portuguesa. Entendo que a abordagem de Sodré (2014) dialoga com Couldry e Hepp (2020), ao considerar as mudanças na configu- ração social a partir da relação entre a tecnologia eletrônica e a vida humana como características da midiatização. Suas conside-

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