Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Ada C. Machado da Silveira 64 rações apontamque não se trata de uma substância ou uma meta- -estrutura, sequer supõe que os sistemas de mídia seriam autôno- mos. Trata-se de uma forma de pensar sobre a mídia como parte constituinte da orientação da realidade e das relações sociais. No primeiro autor, o conceito de midiatização abriga a ideia de “uma mutação sociocultural centrada no funcionamento atual das tec- nologias de comunicação” (Sodré, 2014, p. 109). A interação plataformizada envolve abordar platafor- mas e seus inerentes requisitos de algoritmos e datificação. A plataforma como via estruturante da circulação noticiosa incide na linguagem jornalística, e as notícias passam a ser considera- das “unidades narrativas”, as quais contêm informações sobre determinados fatos ou acontecimentos políticos, econômicos, sociais, culturais, etc. (Duarte, 2022). Emerge, portanto, o que alguns têm chamado de “pla- taformização do jornalismo”, o que leva a problematizar o confronto entre as referidas visões do exercício do poder político, conforme retomarei mais adiante. Indago sobre os atributos jornalísticos da atividade noticiosa desenvolvida em sociedades com marcas autocráticas. O jornalismo de plataforma faculta transformações profundas que incidem nos contextos profissional, empresarial, tecnológico e social da atividade. Trata-se de uma crise de iden- tidade na atividade jornalística provocada pelo choque entre a formalidade dos procedimentos canônicos oriundos da cultura do jornalismo impresso e a disrupção proporcionada por práti- cas inovadoras do jornalismo digital, praticado por nativos digi- tais e ancorado na informação visual. Em franca implantação, o jornalismo de plataforma promove uma redefinição do campo informacional como um todo, bem como os princípios de legiti- mação em contexto numérico ou datificado. Uma realidade em que o feedback do usuário datificado (datafied user feedback), na expressão de Poell (2017), aponta a relevância dos dados e das métricas de consumo. Tais aspectos se converteram em fatores determinantes para a definição do conteúdo jornalístico. Esta nova realidade encaminha para considerações so- bre o sistema radial que veio a ser substituído pelo emergente sistema de redes digitais. O anterior sistema radial supunha a exclusão da maioria dos brasileiros como sua comunidade inter-

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