Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Interação plataformizada no mundo multipolar 65 pretativa; especialmente a comunidade de leitores estava restringida, à diferença da comunidade de ouvintes (popularizada) e espectadores televisivos (progressivamente incorporada ao espectro de audiências). A capacidade hierarquizadora do midiático carregava assim a estrutura de mídia popular apoiada em seus valores. Foi com a emergência das redes de mídias so- ciais, com a popularização dos smartphones, há pouco mais de uma década, que se operou no Brasil, como em outras partes do planeta, um certo fracasso do padrão canônico da atividade profissional do jornalismo. Deu-se o surgimento do fenômeno disruptivo na comunicação, construído a partir de princípios polarizadores, e não mais aglutinadores. Rocha (2021, 2023), por exemplo, aponta a existência de uma midiosfera bolsonarista para abordar a dissonância cognitiva atuante na circulação de narrativas polarizadoras. Nesta mesma linha, entendo que Cunha et al. (2020) enfatizam o apelo à criação de pânico nas bolhas de WhatsApp como processo significativo no ecossiste- ma midiático. A dinâmica polarizadora se instaura sobre ou a partir do acoplamento estrutural proporcionado pelas plataformas de mídia e tem como consequência a realidade emergente de uma outra ordem da noticiabilidade. Uma ordem que classifica, ordena e dita a distribuição. A noticiabilidade pode, então, ser situada analogamente à ordem do discurso nos termos foucaul- tianos (Foucault, 1996), na medida em que, ao ser própria de um período específico, possui uma função reguladora, normativa, e põe em funcionamento procedimentos de organização do real. E a antiga ordem da noticiabilidade foi desbancada pela conflitiva atividade noticiosa de novos atores, não mais comprometidos em sustentar ou em questionar os padrões da mídia corporativa, amparada em processos comerciais, como a publicidade. Considero pertinente ponderar que havia no antigo sistema radial, no caso brasileiro, um ecossistema midiático de elite, com regras da língua culta, da Ilustração, e uma agenda de consenso das classes dominantes estabelecida pelo jornalismo impresso. Tratava-se de uma cobertura noticiosa reprodutora de assimetrias sociais. O sistema radial supõe a centralidade dos meios na tarefa de organizar os processos interacionais entre os campos

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