Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Ada C. Machado da Silveira 66 sociais. Haveria aí o que Fausto Neto (2008) aponta como alinhamento, a instância da produção precedendo a instância da recepção ou do reconhecimento de conteúdos. No sistema de circuitos emergem operadores diversificados, aprofundando o que Braga (2006b) denomina de processos interacionais de re- ferência. As plataformas despontam, então, como engenhosos propulsores de tais processos interacionais de referência. As novas dinâmicas empreendidas remetem ao horizonte de uma midiatização profunda da sociedade, mesmo para aquelas, como o Brasil, que possuem expressiva parcela de usuários periféricos à centralidade do mercado de mídia e que dele possuem uma compreensão nebulosa. Recupero, por fim, o questionamento sobre o elemento dialógico pressuposto na competência interacional. As intera- ções sociotécnicas não promovem, conforme muitos salienta- ram aqui, o diálogo de que nossa sociedade tanto necessita. Fact checking ou recomendação via compartilhamento desmerecem a crença na capacidade de diálogo que se esperava ser promovi- da pela atividade jornalística e desafiada pela plataformização. Pode-se dizer, nos termos de Braga (2006a), que o jornalismo enfrenta agora as suas mídias. 3. Jornalismo e democracias liberais Para explorar a questão da cobertura noticiosa no panorama das interações plataformizadas, faz-se importante abor- dar o papel do jornalismo nas democracias liberais do Ocidente. Distingo, portanto, a atividade do jornalismo profissional, responsável histórica pela consagração da esfera pública de- mocrática, da recente proliferação de competências noticiosas por atores não profissionais. A plataformização é um fenômeno definido pelo mercado e evoca atividades como a commodification, para a qual trago a reflexão de Braga (2023) quando aponta a entrada experimental de participantes sociais em práticas e processos restritos previamente pela indústria cultural. Essa característica envolve procedimentos que o mercado denomina de customização (customization) e que vêm afetando as atividades de cobertura noticiosa, notadamente o jornalismo profissional:

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