Ada C. Machado da Silveira 72 cultura acadêmica com o surgimento da cultura digital chegaram a um ponto crucial que parece não ter retorno. Enfrentar a desvantagem da circulação midiática imbricada de conteúdos de entretenimento com conteúdos noticiosos produzidos por empresas jornalísticas supõe reconhecer a transição do modelo analógico para o digital. O novo momento ampliou o alcance e a diversidade do espectro da ecologia da mídia, reconfigurando o anterior sistema radial para um sistema de circuitos, repleto de ofertas inovadoras. E a “midiatização dessas performances vai muito além das atuações já consagradas pela circulação da comunicação midiática [...]” (Ferrara, 2022, p. 20). Diversidade de fontes, interações inéditas e fragmentação apontam-se no novo horizonte O . jornalismo, como atividade profissional ocupada do assim denominado padrão noticioso, enfrenta questionamentos profundos em termos de audiência e legitimidade comunicativa. No entanto, no Brasil, análises empíricas sobre a plataformiza- ção do jornalismo permitem enunciar, inicialmente, a manuten- ção de práticas e padrões próprios do jornalismo autocrático. Haveria algo em comum nas sociedades integrantes dos BRICS neste quesito? A questão agora parece encontrar condições polí- ticas para ser enfrentada. Retornando ao cenário político que impacta na crise comunicacional da mediação jornalística, apontam-se algumas situações que fazem cogitar se a Guerra Fria ameaça renovar- -se. A complexidade dos processos colaborativos de produção de conteúdos, os fenômenos como terrorismo digital, a atuação de milícias digitais, de hackers, de robôs ou a explosão de bolhas virtuais. O impacto dos padrões de “pseudomídia” ou a distorção do mimetismo jornalístico (Palau-Sampio, 2022) se instauram emmeio à circulação noticiosa plataformizada. Com o propósito de atrair e engajar, muitos recursos sociotécnicos são incremen- tados e já não é possível deixar de equiparar a atividade noticio- sa do jornalismo profissional com o infotenimento. Expande-se a esfera de influência da atividade midiática amparada em con- teúdos de interesse privado, ou restritivo ao impacto quase-pú- blico de líderes de opinião, os influencers, amparados na disseminação de perspectivas pessoais e emocionais que fomentam o populismo.
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