Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Aline Roes Dalmolin 80 ternos, em uma autopoiese individual e de grupo, sem o disparador de uma realidade externa que a acionaria. A comunicação se desdobra através de uma rede giratória e sem fim (e sem propósito), ampliando seu campo a cada volta, em um proces- so tautológico (Sfez, 2007, p. 114). Em estudo realizado durante dois anos em um grupo do Telegram, Dibai e D’Almonte (2022) referendam o caráter tautológico da comunicação bolsonarista, enquanto nutrida por uma relação de intenso amor e ódio. O amor se expressa de for- ma irrestrita à imagem de Bolsonaro, enquanto o ódio visa atin- gir uma rede de opositores, na qual certamente a denominação genérica de esquerda/PT se caracteriza como alvo privilegiado, mas que também busca atingir ex-bolsonaristas e todos os que representam algum tipo de contrariedade ou oposição ao bolsonarismo (Dibai e D’Almonte, 2022). Os autores observam que, no grupo analisado, com cerca de 35 mil integrantes, o apoio a Bol- sonaro se desenvolve de forma tão irrestrita que este se mantém mesmo na repercussão de suas falas mais absurdas durante a pandemia. Neste sentido, propõem dois eixos para compreender a natureza do culto à liderança que se dá neste âmbito: Bolsonaro como maior que a própria democracia e mais verdadeiro do que os próprios fatos (Dibai e D’Almonte, 2022). A constatação, após o segundo turno das eleições presidenciais em 2022, de boa parte da população negando os prin- cípios mais basilares do processo democrático nos leva a refle- tir sobre as processualidades comunicacionais que permitem a ocorrência destes episódios. Chama a atenção a necessidade de refletir sobre os processos comunicacionais atinentes ao campo da extrema-direita brasileira, que vai além de uma abordagem conteudística sob o pressuposto da “disseminação de fake news em redes paralelas”. O presente capítulo busca aprofundar a compreensão dos processos comunicacionais polarizados, tomando como ele- mento empírico a comunicação desenvolvida dentro das bolhas informacionais bolsonaristas. O texto aprofunda o debate sobre polarização como estrutura de intolerância (Braga, 2020), so- mando a esta a reflexão sobre as modalidades de circulação en-

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